04/08
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6
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Quinta-feira
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Safari - Serengeti National Park
Acordamos pouco antes de o pessoal da acampamento vir avisar que estava na hora (apesar de havermos dito que não seria necessário nos acordar) e fomos tomar o café da manhã ainda no escuro, devidamente escoltados pelo funcionário responsável pelo 'translado'.
Um pouco mais sobre esse camp móvel: ele muda de posição duas vezes durante o ano, acompanhando a grande migração. De dezembro a março eles ficam bem no sul do Serengeti - essa é a época em que às fêmeas parem suas crias e estas crescem e ficam suficientemente fortes para o deslocamento. De maio a julho o camp vai para o extremo oeste do parque, que é para onde a migração se desloca. E finalmente de agosto a outubro monta as barracas onde estávamos, no norte/nordeste do parque, perto da fronteira do Quênia e do rio Mara, que é onde os animais atravessam em direção ao parque Masai Mara, no Quênia.
A grande migração é um deslocamento dos animais à procura de pastagens mais suculentas - eles acompanham as chuvas que provocam o crescimento da vegetação de que eles se alimentam. O curioso é que eles levam de fevereiro/março até agosto/setembro para se deslocar do extremo sul ao extremo norte do terrítório que a migração cobre. E depois descem de volta, literalmente galopando, em 2-3 meses. O que será que governa esse comportamento? Não conseguimos descobrir.
Partimos praticamente ao nascer do sol, e a caminho da área onde esperávamos encontrar os migrantes tivemos oportunidade de vivenciar um outro ângulo da vida de animais selvagens, menos estética que o que vimos até agora mas também parte do todo: abutres competindo pelos restos dos animais abatidos e abandonados pelos predadores. Também uma disputa entre um chacal e um abutre pelo que parecia ser um gnu.
Mais adiante finalmente encontramos os gnus. Não eram mais tantos quantos aparecem em algumas fotos, pois a maioria já havia atravessando o rio Mara. Mas mesmo assim eram muitos gnus às vezes espalhados pastando e em outros pontos em fila indiana caminhando para o norte. Não é possível ter certeza de que distância uma 'procissão' dessas percorrerá antes de parar de novo. E, particularmente, se ela chegará e tentará atravessar o rio Mara.
Essa travessia é um ponto particularmente importante da grande migração: o rio Mara é infestado de crocodilos, e a travessia é um processo complicado, em que os gnus têm que decidir onde atravessar de modo a reduzir o risco de ataque. Fomos muito afortunados porque tivemos oportunidade de ver uma sequência de alguns dos aspectos que caracterizam essa travessia: a indecisão sobre ir ou não ir, a travessia uma vez decidido, o desaparecimento de um gnu apanhado por um crocodilo e um outro gnu que ficou preso numa pedra ou outra coisa no fundo do rio e que conseguiu se desvencilhar.
Só há um jeito de descrever isso, e não é nem com fotos nem com texto: aqui você encontra alguns vídeos que fizemos na ocasião.
Descrito dessa forma tudo parece rápido e simples, mas cobrir a distância do acampamento para as margens do rio Mara onde ficam os vaus de travessia (os animais não nadam, eles procuram pontos rasos onde conseguem atravessar caminhando) e a procura do local onde eventualmente eles vão decidir atravessar é um processo longo e um tanto cansativo.
Inclusive ficamos um pouco frustrados por descobrir que a pista de pouso de Kogatende, onde fizéramos escala no dia anterior, ficava muito mais perto do acampamento que Seronera. Por quê não havíamos descido ali? Aí lembramos dos 'gatos' que vimos no dia anterior e começamos a achar que podia ter valido a pena. Já a volta foi realmente um tanto frustrante: poderíamos muito bem dormir novamente no acampamento móvel, mas como nossa passagem havia sido reservada para e de Seronera, tivemos que voltar para lá na parte da tarde.
Foram quase quatro horas rodando, com oportunidade de fotografar mais alguns animais, mas mesmo assim cansativas e pouco produtivas. E aí dormimos no acampamento fixo, que fica perto do aeroporto. Esse acampamento é basicamente igual ao móvel (o tipo e dimensão das barracas) mas é um pouco melhor montado, em termos de tipo e qualidade dos móveis nas barracas e infra-estrutura central: além do restaurante oferece também um bar.
O ritual da fogueira se repetiu, incluindo boa parte dos hóspedes - não há tanta variação assim na programação desses safaris. No jantar o proprietário, Barnabas juntou-se a nós em nossa mesa. Ele é uma figura, sempre acompanhando de perto o que está acontecendo e controlando a qualidade do serviço oferecido - também estava no acampamento móvel no dia anterior. Ele é um Maasai que trabalhou muito tempo como guia e depois montou esses dois camps, aparentemente com bastante sucesso.
05/08
/201
6
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Sexta-feira
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Serengeti - Arusha - Nairobi
A noite foi marcada pelos leões - muito barulhentos e perceptivelmente próximos do acampamento. No café da manhã Wazari e Barnabás explicaram que há uma família bem próximo do acampamento. A caminho do aeroporto ainda tentamos vê-los, pois Wazari sabia (ou dizia que...) exatamente onde eles vivem, mas sem sucesso. A caminho do aeroporto ainda vimos alguns animais, mas nada de novo - praticamente nem fizemos fotos nesse trajeto.
Wazari organizou tudo no aeroporto - só precisamos esperar no jipe, de onde aproveitamos o WiFi para informar os filhos que estávamos "de volta à civilização". Despedimo-nos dele e partimos para mais um trecho aéreo. O vôo de retorno acabou sendo mais curto que o imaginado: teoricamente ele deveria ser exatamente o mesmo da vinda, mas como o avião encheu ali e todos os passageiros tinham Arusha como destino, ele seguiu direto para lá.
Devido a essa redução de trajeto e tempo chegamos cedo em Arusha, bem antes do horário originalmente programado. Como parte da organização desse safari, havíamos deixado nossas malas aos cuidados do hotel em Moshi (cujos proprietários também são donos da operadora de turismo que organizou os safaris do tour e nosso), e um carro deles deveria nos recolher no aeroporto e levar até o local de onde partiria o transporte para Nairobi.
Optamos por nem ligar para lá e simplesmente esperar. No horário que havíamos marcado saímos do aeroporto - apesar de pequeno e bastante simples o acesso dele é muito controlado - e lá estava nosso motorista, o mesmo rapaz que nos trouxera de Moshi três dias antes. Ele nos levou até o ponto de saída do que eles chamam de shuttle para Nairobi.
O tal shuttle nada mais era que um dos muitos ônibus que víamos pelas estradas, na versão menor. Era super cedo, de modo que tivemos que ficar por ali, com nenhuma infra-estrutura para esperar, apreciando o movimento. Devagar os passageiros foram chegando, e as malas foram para a capota do ônibus, único lugar possível para elas.
Partimos com o ônibus quase cheio, mas ele ainda recolheu mais alguns passageiros até sair de Arusha, e no fim estava completamente lotado, inclusive com aqueles bancos dobráveis no corredor ocupados. Apesar de para nós parecer uma tarifa de razoável para barata (US$ 25,00), ficamos com a impressão de ser um valor meio alto para a população local: os passageiros eram claramente de uma classe sócio-econômica um pouco mais alta.
A viagem deveria durar, segundo o horário publicado, 4h30. Mas ficamos com a impressão de que esse tempo é apenas algo que se publica por obrigação. A distância até a fronteira é mais ou menos 40% do percurso, mas quando finalmente partimos dali já havia passado bem mais de metade do tempo teórico de viagem - além dos procedimentos de fronteira, que incluiram descer todas as malas para inspeção da alfândega, o ônibus parou por uns vinte minutos numa loja de souvenirs logo após a fronteira.
Até poderíamos contar com uma velocidade média mais alta - o trecho até a fronteira não foi diferente do que estávamos acostumados, com os benditos trechos urbanos a 50 km/h - mas isso não aconteceu. E para completar a chegada a Nairobi, em plena sexta-feira à noite, pouco deveu a Dar es Salaam. E nem podemos reclamar, porque no sentido contrário, de saída da cidade, a coisa estava catastrófica: pelo jeito muita gente sai da cidade no fim de semana ou muitos moram fora da cidade e vão trabalhar de carro - ou as duas coisas juntas.
Ainda tivemos mais um atraso porque pelo que entendemos, esse ônibus passa pelo aeroporto internacional de Nairobi antes de ir para o centro (talvez daí também a denominação de shuttle). Em algum momento o motorista perguintou se havia alguém para o aeroporto e recebeu uma resposta negativa (nossa interpretação, pois tudo isso foi falado em swahili). Em função disso ele tocou para o centro da cidade.
Mas havia alguém que queria ir para o aeroporto (estava dormindo quando o motorista perguntou?)! Novamente não temos como dar detalhes pois a discussão foi em swahili, mas o resultado final foi uma demora de quase meia hora num posto de gasolina onde esse passageiro foi desembarcado, sua mala retirada da capota do ônibus e... não sabemos como ele foi para o aeroporto.
Finalmente chegamos ao destino, lá pelas 20h30 (duas horas após o horário teórico de chegada). E esse 'destino' também não foi muito animador: o ônibus simplesmente parou numa rua transversal de outra mais movimentada, suficientemente larga para que o ônibus parasse no meio da rua (fila dupla) e desembarcasse passageiros e bagagem.
O combinado com a operadora de Moshi é que o hotel de Nairobi enviaria um taxi para nos levar ao hotel. Esse taxi, claro, não estava lá. Deu um frio na espinha, parados ali com quatro malas, em território completamente desconhido, sendo assediados pelos taxistas que estavam ali para recolher os passageiros do ônibus e sem saber para onde ir - claro que tínhamos o endereço do hotel, mas se o taxi resolvesse nos levar num tour involuntário da cidade não teríamos como saber disso.
Fomos salvos pelo motorista do ônibus, que se prontificou a ligar para o hotel. E essa ligação acabou sendo a salvação: o hotel mandou o tal taxi, que chegou depois de uns dez minutos, com um motorista muito solícito e com um inglês suficientemente bom para conversarmos um pouco.
Mas as surpresas ainda não haviam acabado: ao chegada ao hotel foi difícil por duas razões: no entorno dele havia um movimento enorme na rua, com muito barulho de música. Alguma espécie de balada de sexta-feira, ou coisa parecida, que obrigou o motorista dar uma volta. E já havíamos lido que o hotel era difícil de achar por se tratar de um hotel que ocupa os três últimos andares de um edifício comercial, mas não imaginávamos que fosse tão escondido: só mesmo cim alguém que conheça você chega lá.
E finalmente, desembarcadas as malas, no caminho do elevador ainda fomos submetidos por dois seguranças a uma revista com aqueles detectores de metais manuais que se vê em aeroportos. Como é que é? Num prédio comercial? Muito estranho, mas naquele momento nossa única preocupação era subir a tempo de conseguirmos comer alguma coisa no restaurante do hotel, tomar um banho e cair na cama - o dia fora suficientemente longo e cansativo!
E isso conseguimos: o check-in foi rápido, colocamos as coisas no quarto e corremos para o restaurante que fecharia dali a meia hora. Comida saborosa mas 'invisível' (a tal iluminação 'romântica'). E dali foi banho e cama!