02/08
/201
6
-
Terça-feira
:
Moshi / Arusha
Um dia, muito benvindo, de descanso total. Ele havia sido previsto dessa forma no tour: um dia para descansar, preparar a bagagem para a viagem de retorno no dia seguinte e para as despedidas depois desses 23 dias de intensa convivência.
Originalmente o que se imaginava era que a reunião final de despedida do grupo fosse o jantar nesse dia. Entretanto, acabamos mudando isso: nós dois havíamos comprado mais um safari, nos dias 03-05/08. Esse safari começaria no aeroporto de Arusha, com um vôo para o parque Serengeti, no noroeste da Tanzânia. Já três dias antes, quando saímos de Moshi para o parque de Lake Manyara descobrimos que o tal aeroporto fica do outro lado da cidade de Arusha, portanto precisaríamos de bons 90-120 minutos para chegar lá a partir de Moshi, ainda mais que iríamos justamente no horário de pico da manhã: o vôo partia às 9h00.
Pedimos então, por telefone, lá do hotel onde estávamos durante o safari, que o pessoal que organizava os dois safaris (do tour e o nosso) deslocasse nossa reserva de 02-03/08 para um hotel perto do aeroporto de Arusha para tornar essa transferência até o vôo do dia seguinte menos tensa e cansativa. Isso significava que não estaríamos mais em Moshi para o jantar e gentilmente o pessoal se dispôs a se reunir para um almoço de despedida.
Então depois de uma manhã ocupada só pelos preparativos de bagagem, almoçamos pela última vez juntos. Além dos 'discursos' de despedida, nesse almoço foi definido o destino do Andy, nosso mascote: é tradição da SAMA Tours que alguém o leve, com o compromisso de que ele volte com um viajante de um tour futuro. Essa condição já nos eliminou de cara, já que a chance de um outro brasileiro fazer isso é bastante reduzida. Richard, que estava com o Andy, optou por entragá-lo aos cuidados de Jeff e Marylin, certamente o casal certo para conduzir Andy até a Austrália.
Depois do almoço ainda tiramos a 'foto oficial' do grupo, que não existia até esse momento, fizemos as despedidas finais e tomamos o rumo de Arusha. Acidentalmente, porque pedimos ao motorista que voltasse ao hotel inicial para esclarecermos alguns detalhes com o operador do safari que iniciaríamos no dia seguinte, encontramos o Darryl e nos despedimos dele - entendemos que ele estivesse ociupado e preocupado com a viajante acidentada, mas ficou uma sensação de abandono desde o momento em que fomos deslocados para o outro hotel.
O deslocamento até o hotel de Arusha não teve nada de novo ou particularmente interessante. O motorista ainda perguntou se queríamos parar para tirar mais algumas fotos do Kilimanjaro, que estava mais ou menos visível, mas, certo ou errado, assumimos que essas fotos não seriam melhores que as que havíamos feito pouco antes nos jardins do hotel.
A única surpresa foi a chegada ao hotel: o motorista seguia pela estrada, asfaltada, que já havíamos percorrido duas vezes nos dias anteriores, e de repente entrou numa viela de terra batida, toda esburacada e ladeada de casebres e barracos de madeira ou alvenaria. Conversando mais tarde sobre esse momento concluímos que muito dificilmente entraríamos naquela ruela se estivéssemos sozinhos, por mais que nos assegurassem que o hotel ficava ali.
Claro que na chegada não foi possível documentar o susto, mas fizemos questão de filmar a saída, no dia seguinte, para dar uma idéia do lugar.
Depois de uns 300 metros um portão de ferro num muro alto se abriu do lado esquerdo e nos vimos num hotel extremamente simpático e bem cuidado. É o que chamaríamos aqui de pousada, mas com quartos muito bem montados e decorados, uma área comum agradável, com um pequeno terraço em frente ao restaurante e uma piscina muito bem cuidada.
O proprietário é um esloveno que depois de sete anos de algumas visitas à Tanzânia e países adjacentes decidiu se estabelecer de vez ali, e comprou e reformou essa pousada. Completamos a dia com um jantar surpreendentemente bom. Ao perguntarmos como seria o jantar fomos informados que como nossa estadia era com meia-pensão, o cardápio era fixo.
Ficamos um pouco ressabiados, mas fomos brindados com uma refeição de sopa, salada, prato principal e sobremesa, todos preparados com extremo cuidado e qualidade. além de um serviço muito atencioso. Foi uma estadia a ser lembrada: Ahadi Lodge é o nome do hotel.
03/08
/201
6
-
Quarta-feira
:
Safari - Serengeti National Park
O dia começou com o translado do hotel para o aeroporto, feito pelo próprio proprietádio do hotel, Ivan. Tivemos oportunidade de conversar um pouco com ele e ficamos sabendo mais algumas coisas sobre a vida local: segundo ele a classe sócio-econômica a que ele pertence (nem sabemos se é possível descrevê-la, mas talvez pudéssemos dizer empreendedores ou funcionários graduados de empresas - brancos?) não têm muita alternativa em termos de moradia: condomínios fechados são a solução para a absoluta maioria, e a motivação é basicamente segurança.
Outra dúvida que trazíamos foi esclarecida: vimos, nos dias anteriores, 'lojas de móveis' na beira da estrada, e estranhamos porque até onde conseguimos ver, são móveis bons. Ivan nos contou que particularmtente camas são uma espécie de bem para a vida toda: a pessoa ou casal compra uma só, que tem que durar décadas - portanto tem que ser um artigo de qualidade!
Ficamos nos perguntando quanto é necessário reajustar conceitos e preconceitos para procurar móveis com essas características na beira da estrada, espalhados pela terra na frente de um verdadeiro barraco. Quem quiser viver aqui tem muito a aprender!
Bem, fomos deixados no aeroporto e tivemos uma pequena dificuldade para encontrar onde fazer o check-in para i vôo: primeiro nos disseram que ainda não estava aberto e que devíamos esperar uma determinada salinha (o aeroporto é super-pequeno, atendendo apenas a aviões pequenos). Vendo o tempo passar começamos a olhar em volta com mais atenção e acabamos descobrindo que num determinado balcão, de uns dois metros de comprimento, eram processadas três ou quatro companhias aéreas.
E cuidado com o significado de 'companhia aérea' nesse contexto: estamos falando de empreendimentos que podem ter uma dezena ou mais de aviões ou de um piloto que arruma dinheiro para comprar ou arrendar um avião e entra nesse negócio - e qualquer outro tipo de companhia entre esses dois extremos.
Entregamos nossa bagagem (limitada a uma mala pequena - tipo mala de mão de vôos de grande porte) e ficamos esperando até sermos chamados. O avião, como praticamente todos (são muitos!) que operam nesses parques, comporta doze ou quinze passageiros, que podem ter que entrar quase de quatro quando são altos como eu.
Estranhamos um pouco por sermos os únicos passageiros no vôo, mas depois entendemos: o vôo faria duas escalas antes de chegar ao nosso destino: no Lake Manyara (sim, aquele onde estivemos três dias antes), Kogatende, que fica bem ao norte do parque, quase na fronteira com o Quênia e Seronera, nosso destino. Esse último é o maior e mais importante aeroporto no Serengeti. Em Lake Manyara embarcaram alguns passageiros e em Kogatende o avião encheu, e aí o piloto ainda teve que redistribuir os passageiros, pois não podia deixar pessoas pesadas (homens altos, nem precisa ser obeso) nas poltronas do fundo.
Desembarcamos em Seronera e por alguns minutos ficamos um pouco perdidos: não vimos o guia com a placa com nossos nomes e passamos direto por ele. Ficamos no 'terminal' (uma choupana de sapé de uns 20 x 20 metros), na esperança de que ele nos achasse, e foi o que aconteceu.
Wazari (seu nome) se apresentou e nos encaminhou para o jipe - muito parecido com o que usamos nos dias anteriores) que seria nosso veículo durante as próximas 48 horas. Éramos só nós dois, e depois observamos que diversos carros tinham esse arranjo: somente casais ou então familias, muitas vezes com crianças relativamente pequenas.
Wazari deslocou o jipe para um pouco mais longe da área de estacionamento dos aviões, pois estes levantam muita poeira ao se afastar para decolar, e foi completar a burocracia (imaginamos que ele estava se assegurando que havíamos pago pelo que seria oferecido) e foi a última oportunidade de enviar uma mensagem para os filhos: o jipe tinha um roteador WiFi, mas ele só funcionava no aeroporto, não havia conexão de satélite.
Esse jipe pertencia ao próprio Camp onde ficaríamos hospedados (eles vendem o pacote completo, hospedagem mais safari) e era muito bem equipado: além do WiFi, tinha tomadas que aceitavam diferentes tipos de plugs para recarregar baterias de câmeras, em cada assento havia uma almofada com bonito acabamento de renda para tornar o assento mais confortável e cada assento tinha um bean bag, saquinhos de lona cheios de alguma semente (não necessariamente feijão como no nome), que servem para apoiar a câmera para estabilizá-la em fotos feitas com grande aproximação (zoom), quando as imagens facilmente ficam borradas por movimento da câmera.
Ao reservarmos esse safari havíamos informado que nosso foco seria ver a grande migração, que aliás foi um foco extremamente desfocado: ao ler sobre os parques e animais na Tanzânia, eu fiquei sabendo da migração de norte para o sul e vice-versa dos wildebeest. Apesar das fotos que eu deveria ter interpretado melhor, nem me dei ao trabalho de procurar o significado da palavra: wilde só podia ser selvagem e beest animal (besta). E durante muito tempo fiquei imaginando veríamos manadas de diferentes animais.
Só lá pela metade da nossa viagem, já no tour de moto, fui me tocar que wildebeest é gnu! Vergonhoso!!! E ainda bem que esse mal entendido foi esclarecido a tempo: imagine a frustração que teria sido descobrir só na hora que só veríamos gnus. Na realidade a maioria absoluta dos migrantes são gnus: entre 1,3 e 1,5 milhões de animais vivem no Serengeti!!! Zebras e alguns antílopes também fazem o trajeto, mas são bem menos: umas 300.000.
Em função dessa nossa solicitação, a operadora de turismo de Moshi escolheu o Mbugani Camp, por ser um acampamento que acompanha a grande migração - mais sobre isso depois.
Wazari nos explicou que o Camp estava bem no norte do Serengeti, pois era lá que os gnus estavam nessa época do ano (a migração sul-norte praticamente já havia se completado) e que o programa seria o seguinte: nesse dia faríamos um game drive nessa região mais ao sul, próxima do aeroporto, e depois nos deslocaríamos até o acampamento no norte. O dia seguinte seria dedicado à procura dos gnus e ao retorno para Seronera - dormiríamos uma noite no acampamento móvel e a segunda noite no acampamento fixo, mais próximo do aeroporto.
Mencionamos que já havíamos visto todos os big five (elefante, rinoceronte, búfalo, leopardo e leão) mas que dos felinos gostaríamos de ver mais, pois ainda não víramos, por exemplo, um leão macho, só leoas.
Não sabemos se Wazari se orientou com base nesses comentários nossos ou se foi acaso, o resultado da manhã foi excelente. Logo que começamos a rodar pelo parque vendo mais ou menos o mesmo de outras oportunidades, encontramos a primeira leoa em pé: até agora só havíamos visto leoas deitadas preguiçosamente depois de se alimentarem, mas essa estava mais ativa.
Em seguida Waziri avisou que um outro guia havia visto um leopardo. Lá fomos nós, e ao chegarmos ao local a primeira pergunta que nos fizemos foi como é que esses guias encontram os animais??? Veja a foto ao lado, e avalie a distância dessas duas árvores da estrada. Pois bem, na da esquerda estava o leopardo, e na direita a gazela que ele havia caçado. Waziri explicou que eles guardam a caça em árvores para protegê-la de leões e hienas, que 'roubam' sua presa. Ficamos por ali para ver se algo aconteceria, mas o máximo que vimos foi que o leopardo mudou de posição na árvore.
Continuamos andando e pouco depois nos deparamos (quer dizer, fomos levados pelo guia) com outra visão que faltava para a 'lista': um leão, junto ao búfalo que as leoas haviam caçado para ele. Muito legal, conseguimos alguma fotos bem legais.
O resto do dia foi normal, com mais algumas fotos de animais vistos em outras ocasiões e um relativamente longo trajeto até o acampamento da primeira noite. E mesmo esse trajeto (além de tudo desconfortável pela estrada cheia de 'costelas de vaca') acabou muito enriquecido pelo último felino: conversando com Waziri ele perguntou o que já havíamos visto e se faltava alguma coisa. Mencionamos que não havíamos visto cheetas, e ele brincou que então essa era a nova missão dele: achar uma cheeta para nós.
Pois não é que menos de quinze minutos depois aparece uma, com dois filhotes, atravessando a estrada? Fomos pegos tão de surpresa que nem conseguimos fazer fotos melhores: ela sumiu antes de eu estar realmente pronto. Mas valeu, completamos a lista de felinos!
Ainda gastamos algum tempo para achar o acampamento - claramente o Wazari ainda não estivera lá. Mas finalmente chegamos, para encontrar um conjunto de dez barracas muito grandes (até grandes demais) e confortáveis, suficientemente separadas uma das outras para proporcionar a privacidade possível nessas circunstâncias.
Esse Camp (talvez não seja só aqui) cutiva alguns costumes: ao cair da tarde / início da noite, antes do jantar, eles acendem uma fogueira ao redor da qual os hóspedes, ao fim do dia de safari, se reúnem para conversar, e tomar um aperitivo.
Lá pelas 19h30 foi servido o jantar - buffet, relativamente poucas opções mas bem preparado. E aí entra outro costume simpático: o 'seu' guia janta a sua mesa. É bem legal, dá oportunidade de conversar e aprender mais um pouco, e não ficar só naquela relação cliente / prestador de serviço.
Depois do jantar nos recolhemos à barraca (ou então fazer o quê?) porque no dia seguinte a ordem era levantar cedo (para pegar os animais noturnos ainda ativos). Estamos totalmente expostos aos animais, e não é permitido sair da barraca sozinho: temos que acender/apagar a luz da varanda e um ranger do acampamento vem ns buscar. Estes não andam armados, então fica uma certa dúvida de que proteção eles realmente oferecem, mas também não faz muito sentido afrontar essa norma.
E a grande novidade foi dormir ao som do mugido (estamos usando essa palavra por falta de outra, mas o som não tem nada a ver com o que bois e vacas fazem) dos gnus, e durante a noite rugidos de leões, provavelmente disputando território ou presas.