Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Brasil / Goiás II


14-15/03/2011 - Segunda-feira/Terça-feira: Alto Paraíso de Goiás

Bem, agora começou o 'desfile de Brasil'. Esses dois dias foram muito cansativos graças à dificuldade de acesso às cachoeiras que visitamos (principalmente no primeiro dia), mas o que vimos valeu cada passo dado.




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Gostaríamos de ficar e ver mais coisas, mas para as atrações 'três ou mais estrelas' (pelo Guia 4 Rodas) não temos condições físicas. E o lado financeiro também está complicado: como estamos fora de estação, é difícil formar grupo (mesmo que de 4 pessoas) para dividir os custos. E o passeio de carro comum sai por R$ 250,00/dia e R$ 330,00/dia com veículo 4x4. Complicado bancar isso por mais que dois dias.

A chapada dos Veadeiros, para quem tem condições físicas adequadas, é coisa para uma semana! Depois que a gente viu a terceira cachoeira acha que o resto será repetição, mas ao ver mais descobre que cada uma tem sua atração exclusiva.

Infelizmente muitas trilhas são bastante complicadas e o acesso a algumas dessas cachoeiras só com veículo 4x4 ou muita disposição e coragem de moto. Carro de passeio sofrerá bastante em alguns dos caminhos de terra e simplesmente pode não passar em alguns pontos.

Ah, se alguém for para aqueles lados, evite contratar um guia chamado Suria (Surya?): ele não foi ruim como guia (mas também não foi nada excepcional), mas quando fomos fechar a conta da pousada (Casa Rosa, bem boa) ele havia dito que nós o convidamos para o café da manhã que ele tomou no dia anterior. E para nós ele disse que tomaria café conosco porque as pousadas não ligam para isso. Sujeitinho abusado!

Outra coisa que quase íamos esquecendo: Alto Paraíso tem uma ampla e diversificada fauna de bichos-grilo. Quase tudo que se possa imaginar existe por lá, em grande parte radicados lá, além dos visitantes. Acabamos não fotografando as figuras, mas daria uma galeria interessante.

A Beth, revisando este texto, lembrou de outra experiência gostosa desse dia: nosso almoço foi a matula, uma forma de preparar feijão muito saborosa. Ele vem acompanhado de arroz, carne de lata, carne de porco, mandioca frita, arroz e abóbora. Prato prá caminhoneiro nenhum botar defeito! Ah, e tem que ser comido no rancho do Waldomiro, na estrada para São Jorge. É um rancho muito simples (uma palhoça) mas a recepção do seu Waldomiro é muito calorosa e enquanto se espera há um sortimento de cachaças e licores para experimentar. E a comida é realmente espetacular!


16/03/2011 - Quarta-feira: Alto Paraíso de Goiás - Cavalcante

Até chegarmos em Pirenópolis nunca ouvíramos falar de Cavalcante, mas a Claudine, que encontramos na pousada de lá, disse que era imperdível, o que foi repetido por pessoas em Alto Paraiso.
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Nesse primeiro dia visitamos as Cataratas do Rio dos Couros - jornada de dia inteiro, com aproximadamente 3 horas (ida e volta) de jipe 4x4 e mais umas quatro horas percorrendo as trilhas e admirando as quedas d'água. O tempo de caminhada pode ser reduzido para aventureiros com melhor preparo físico, mas foi o que nós precisamos.

No segundo dia visitamos as cachoeiras Almécegas I e II e São Bento, as três na Fazenda São Bento. Nesse dia ainda sobrou tempo para visitar o Vale da Lua, outra manifestação espetacular da natureza.
Ainda no dia da chegada tivemos oportunidade de conhecer um outro casal interessantíssimo: Manolo e Soli (?), proprietários de um boteco e produtores de cerveja artesanal. Eles são chilenos e imigraram há cinco anos, depois que sua filha se casou e teve um filho aqui no Brasil. O Manolo trabalhava numa cervejaria chilena, e decidiu aplicar os conhecimentos adquiridos montando sua cervejaria em Cavalcante. É fantástico ver alguém já maduro fazer tudo isso ao mesmo tempo: trocar de país, trocar emprego por iniciativa própria nessa escala e ainda por cima enfiar-se numa cidadezinha como Cavalcante para realizar tudo isso. Eles estão de parabéns.
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Então hoje tocamos para lá.Viagem curta (90 km.) e que pode ser enriquecida com uma parada na cachoeira Poço Encantado, mais ou menos a meio caminho. Pena que quando paramos lá começou a... claro, chover! Optamos por admirá-la apenas de longe, e economizar os R$ 20,00 que custaria descer até o poço na base da cachoeira.

Cavalcante é um 'agradável buraco', que está sendo descoberto pelo turismo agora. Mas já conta com algumas pousadas bem montadas - ficamos na Sol da Chapada: simples, mas confortável, e a simpatia da proprietária (Mônica) e sua habilidade culinária a tornam ainda mais atraente.
17/03/2011 - Quinta-feira: Cavalcante

Hoje queríamos ver a cachoeira Santa Bárbara. Bem, nós a vimos, mas não nesse esplendor de cor da foto. Em primeiro lugar o dia estava nublado, o que já prejudicaria a cor da água. Mas, além disso, havia chovido (novidade, né?), o que torna a água do rio turva.

E aconteceu muito mais. Mas vamos começar pelo começo: para chegar a essa cachoeira contratamos novamente os serviços de um guia: o acesso inclui travessia de riachos que viram rios dependendo da intensidade da chuva e trechos de estrada onde nós certamente não colocaríamos nosso carro.
Bem, com esse guia e uma picape 4x4 cabine dupla fomos até uma aldeia calunga (quilombolas) perto da qual deixamos a picape, atravessamos o rio a pé e seguimos por aproximadamente quatro quilômetros de caminhada e um quilômetro de trilha leve até a cachoeira. Bem, nessa ida já começou a aventura: na aldeia, onde é necessário pagar uma taxa de visitação, um outro guia disse que passaria o rio para economizar os quatro quilômetros de caminhada para suas clientes. Nosso guia disse que não arriscaria e deixaria o carro do lado de cá do rio. Quando chegamos ao rio lá estava o utilitário (Kia) do rapaz, já do outro lado do rio, mas lindamente atolado na areia da margem do rio.

Depois de tentar empurrar o carro para a frente os dois guias desistiram e o nosso puxou o carrinho de volta pelo rio (com uma corda amarrada na picape) e ele foi embora: as clientes desistiram de visitar a Santa Bárbara. Durante esse procedimento todo demos uma olhada nos pneus do utilitário: eles tinham menos de 1 milímetro de sulco! E o cara teve coragem de enfiar um carro nessas condições num barranco arenoso de rio! Os pneus do nosso carro também não estavam perfeitos, mas pelo menos nosso guia foi mais cuidadoso.

Bom, encerrada a operação de resgate lá fomos nós para nossa caminhada. O trecho inicial é simplesmente uma caminhada ao longo dos quatro quilômetros de estrada que o carro percorreria se passasse o rio lá atrás. Depois vem a trilha, que inclui a travessia de dois riozinhos, uma delas atravessando uma pinguela de troncos de madeira e a outra andando pelo rio mesmo. Mas no todo é uma trilha realmente fácil.

Antes de chegar à Santa Bárbara visita-se a 'Barbarinha', uma queda menor mas onde as águas do poço também são cristalinas e esverdeadas. Essa conseguimos ver do jeito que deve ser. Praticamente no instante em que chegamos à Santa Bárbara, começou a chover! E foi uma belíssima chuva. Não só ficamos encharcados até os ossos como não se via mais nada além de água turva na própria cachoeira e no poço.

Depois de quase meia hora esperando a chuva parar, durante a qual comemos nossos biscoitos e frutas e tomamos bastante água para tornar a mochila mais leve na volta, decidimos que não adiantava continuar ali (mesmo que a chuva parasse não veríamos as cores da cachoeira) e iniciamos o retorno. Parou de chover, e como já estava tudo molhado mesmo, chapinhávamos alegremente pelas poças d'água do caminho, rindo dos cuidados que havíamos tomado na ida para não molhar os tênis.

Mas a alegria esmoreceu quando chegamos ao primeiro dos riozinhos que havíamos cruzado na ida: de riozinho ele não tinha mais nada! O Paulo (nosso guia) tentou atravessar levando uma corda para servir como guia mas desistiu: a correnteza puxava demais. Como havia parado a chuva, decidimos esperar com calma, pois da mesma forma como subira, o rio certamente desceria novamente. Demorou uma meia hora, mas depois disso o Paulo conseguiu atravessar a corda e nos ajudar a chegar à outra margem.

No segundo rio, a pinguela que na ida estava um bom meio metro acima da água, agora estava coberta pelo rio. Foi possível atravessar, mas com muito cuidado pois a água arrastava com força. Finalmente, no rio onde havíamos deixado o carro foi relativamente fácil atravessar (claro que sempre contanto com o apoio seguro da mão do Paulo), mas ficou claro que se tívéssemos atravessado de carro este ficaria do outro lado - sem chance de atravessar daquele jeito.

Bem, o resto foi uma viagem de volta muito cansativa, pois estávamos tensos e exaustos pela aventura - acabamos chegando à pousada à noite, lá pelas 19:00 horas (havíamos saído às 9:30 e nem visitamos a Capivaras, outra cachoeira prevista para a volta).

Mas valeu a aventura! E não podemos deixar de agradecer ao Paulo (Pardal) e à operadora Suçuarana pelo excelente serviço: o Paulo transmitiu muita segurança, e estava muito bem preparado para nos ajudar nessa situação.

18/03/2011 - Sexta-feira: Cavalcante

Hoje amanheceu chovendo. Juntando isso ao cansaço provocado pelo dia anterior (parecia que havíamos levado uma surra), decidimos ficar na cidade, atualizar o site e resolver algumas pendências, incluindo a segunda dose de vacina contra hepatite B.

Poderia ter sido um dia relativamente monótono, mas depois do posto de saúde e de umas compras no supermercado inventei de cortar os cabelos. Entramos numa barbearia, e, depois de interromper o barbeiro no conserto de um motor elétrico, expliquei o que queria e me sentei na cadeira.


O Parceiro (assim se chama o barbeiro) cortou meu cabelo e, sem perguntar, começou a passar sabão no meu rosto e decretou que seria necessário também fazer a barba. Bem, acabei com cabelo, barba, pelos do nariz e das orelhas devidamente cortados! E a Beth ainda foi convocada para espremer uns cravos que ele descobriu na minha nuca.

Terminada a operação barba e cabelo, que custou menos da metade do que cobra a cabeleireira de bairro que usamos em São Paulo apenas para cortar o cabelo, a Beth perguntou a ele quem usava as caixas de som empilhadas no fundo da barbearia. O Parceiro explicou que é sanfoneiro e tem uma banda que toca em festas da roça. E imediatamente agarrou a sanfona e nos brindou com um recital de quase meia hora!

Maravilhoso como esse pessoal é comunicativo e encara a vida de forma tranquila e alegre. E quase todos aventureiros: as pessoas com que conversamos eram todas oriundas de outros lugares. Acabou sendo mais uma bonita experiência para guardar na lembrança.


19/03/2011 - Sábado: Cavalcante - Natividade (TO)

Hoje partimos em direção ao Jalapão, e optamos por dividir a jornada em duas etapas, com um pernoite em Natividade. A viagem foi tranquila, embora alguns trechos da estrada estejam bem esburacados e, como sempre, a velha companheira chuva.

Aliás, durante quase toda a viagem tivemos que agradecer à estrada: toda vez que pedíamos que ela desviasse para um lado ela obedientemente fazia isso, permitindo que passássemos 'raspando' pela chuva. Mas faltando uns cem quilômetros para chegar essa ajuda nos foi negada e tomamos um bom banho. Mas ainda deu tempo de secarmos até Natividade.
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