Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  África 2016

Swaziland - Lobamba / Africa do Sul - Pretoria

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06/07
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6
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Quarta-feira
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St. Lucia - Lobamba (SZ)

Hoje nos dirigimos para a Suasilândia, uma parada a caminho de Pretoria, onde terminará a primeira fase de nossa viagem. Viajar diretamente de St. Lucia a Pretoria seria uma jornada bastante longa, então aproveitamos para conhecer esse país encravado no meio do caminho. Não há grandes objetivos turísticos, é mais uma questão de conhecer esse país já que estamos aqui.

São aproximadamente 340 km., aproximadamente metade na África do Sul e a outra metade na Suasilândia. Nada de especial ao longo da já velha conhecida N2, que nos trouxe desde Cape Town até a fronteira. Já fazia cinco anos que não atravessávamos uma fronteira por terra, e essa logo de cara trouxe uma curiosidade: ao nos aproximarmos do posto de fronteira, ainda na África do Sul, o trânsito parou porque um trem estava atravessando a estrada. Até aí nenhuma novidade.

A coisa começou a ficar interessante quando o trem completou a passagem, o trânsito foi liberado, passaram dois caminhões e um carro e... a mulher que estava controlando o trânsito apitou e parou todo mundo. E  o trem voltou! E voltou bem devagar, até parar completamente quando faltavam uns quatro vagões e as locomotivas. Ficamos ali imaginando se por acaso eles iam mudar de idéia novamente e levá-lo mais uma vez para a esquerda, de onde ele estava vindo. Mas não, ele voltou a se mover e completou a manobra que estava fazendo. Que lugar esquisito para usar como pátio de manobra!

A passagem propriamente dita não teve nada de especial, apenas o usual nessas situações: carimbar a saída da África do Sul, avançar para o posto de entrada, carimbar a entrada, pagar a taxa de importação temporária do carro e seguir viagem.

A viagem também começou muito bem, numa estrada bem pavimentada e com pouco movimento, apenas com os constantes alertas para cruzamento de animais, incluindo os "Big 6" - é, aqui acrescentaram a girafa à lista. Não ocorreu nada na estrada, mas de repente vimos uma girafa se alimentando não muito longe da estrada. Pronto, mais uma espécie para a galeria de fotos.

Um detalhe que lembrou o Brasil era o fato de que na aproximação de cruzamentos ou vilas a sinalização reduzia a velocidade máxima a 60 km/h, mas depois não aparecia nenhuma placa dizendo que a velocidade voltara a 100 ou 120 km/h que era o limite usual. Passamos a usar os dados do GPS e o comportamento dos outros motoristas como referência.

As primeiras impressões que se tinha ao longo da estrada eram de grande pobreza! Ao longo da estrada via-se alguns agrupamentos de cabanas construídas ainda no estilo tribal: redondas, com teto de palha, somente as paredes não são mais de madeira/palha como originalmente, agora são alvenaria ou algum tipo de taipa. E trafegar na estrada começou a ficar mais complicado pela enorme quantidade de gado (bovino e caprino) solto à beira da estrada.

E de um certo ponto em diante a coisa ficou realmente complicada: era fim do horário escolar, e centenas (milhares?) de crianças caminhavam pela beira da estrada, voltando para casa. Para eles é perfeitamente normal fazer isso, aquilo é a 'calçada' deles, mas para nós, que não estamos acostumados, a sensação de perigo é muito grande, e mesmo os 60 km/h que são impostos nessas regiões mais habitadas parecem absurdamente altos.

A última hora de viagem foi bastante cansativa e tensa, porque o trânsito aumentou muito, incluindo caminhões, a qualidade da pista virou uma alternância de buracos, trechos em obras, travessia de cidades, incluindo Manzini, que é uma cidade bastante grande. E até o lodge que tínhamos reservado ficava numa estrada de terra que só deu para ter coragem de enfrentar porque havia placas indicando que aquele era o caminho do hotel - o GPS também dizia isso, mas não temos certeza se teríamos confiado só nele.

Já era relativamente tarde (o sol se pôs enquanto comíamos) de forma que comemos, tomamos nossa garrafa de vinho (já bebemos mais vinho nessa viagem que em todos os últimos cinco anos em casa) e ficamos por aqui, mais uma vez lutando com a Internet bastante precária.


07/07
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6
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Quinta-feira
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Lobamba

Como dissemos, não tínhamos pretensões turísticas para esse dia, e o único programa que decidimos fazer foi a visita à Cultural Village, a uns dois quilômetros do hotel. É uma reprodução de uma aldeia tribal, com um pequeno anfiteatro anexo onde é feita uma apresentação de danças típicas swazi.

Quando se ouve falar dessas apresentações é fácil imaginar uma coisa feita exclusivamente para turistas, com pouca conexão com a realidade local. Nesse caso a surpresa foi chegar a esse anfiteatro e ver, ao lado de uns 30 turistas, algumas  dezenas de crianças em uniforme escolar, que também estavam ali para assistir à apresentação. OK, então não é totalmente turístico!

A apresentação em si é bem interessante, mostrando cinco danças típicas da cultura swazi. Logicamente não se entende nada dos cantos, e essa ignorância acabou se tornando ainda mais frustrante pela presença dos escolares: eles reagiam e interagiam com os cânticos e danças, e nós ali loucos para entender melhor essa interação.

Depois desse espetáculo fomos conduzidos por um swazi pela aldeia, com explicações sobre os costumes tribais do povo, que inclusive resultam em diversos dos detalhes construtivos da aldeia. O que mais chama atenção é que o conjunto todo gira em torno da poligamia, que ainda é aceita e praticada no país. Em função disso existem conjuntos de cabanas para o senhor do clã, e depois um conjunto para cada esposa. E associado a isso uma série de rituais e regras de convivência tanto para adultos como para as crianças.

Essa questão da poligamia é um tanto complicada porque em função da condição da Suazilândia de membro da ONU ela tem que banir a poligamia, mas esta não só continua existindo como é praticada pelo rei - o país é uma monarquia absoluta. Inclusive uma das duas maiores festas populares, que se realiza em agosto/setembro (a data não é fixa) , é uma cerimônia acompanhada de danças da qual somente meninas/mulheres solteiras sem filhos podem tomar parte. E nessa festa é direito e privilégio do rei escolher uma das participantes como uma nova esposa. Isto é, teoricamente o rei pode adquirir uma nova esposa todo ano. O atual não fez isso e tem 'somente' dezessete esposas. Mas seu pai tinha mais de cem esposas.

Outra característica desses costumes é que a esposa é comprada pelo marido, que precisa dispor de dezessete vacas para poder comprar uma esposa - gado é a moeda corrente nos ambientes tribais, o que talvez explique a grande quantidade de gado que vimos ao longo da estrada.

No fim da apresentação perguntamos ao guia até que ponto os costumes que ele nos apresentou ainda são praticados, e ele disse que somente nas áreas rurais mais afastadas e pobres. Mas pode ser que isso não seja tão pouco assim: 75% da população vive até hoje na área rural.

É o país com a mais alta taxa de infecção por HIV do mundo (25% da população), o que é um dos principais fatores para uma expectativa média de vida que não chega a 51 anos! E ao lado disso, no caminho para a Cultural Village, passamos por verdadeiras mansões - na volta descobrimos que estávamos a duas quadras da embaixada dos EUA. Essa enorme diferença de nível sócio/econômico que deve provavelmente ser o retrato de toda a África marca muito essa viagem: nos instalados num hotel que é um verdadeiro oásis (os quartos são simples, mas oferece uma bela piscina e um restaurante muito bom e agradável pela decoração e posição, com um deck com vista espetacular), cercados de gente de médio/alto poder aquisitivo e logo ali do lado muita pobreza.


08/07
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6
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Sexta-feira
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Lobamba - Pretoria

Hoje é o começo do fim da primeira parte da viagem: após o café da manhã partimos em direção a Pretoria, de onde se inicia o tour de moto. Praticamente desde os primeiros quilômetros, ainda em Lobamba, viajamos pela 'outra' Suazilândia: na parte urbana casas de médio/alto padrão, em grande parte em condomínios (característica marcante aqui e também na África do Sul) e estradas de pista dupla e pavimentação de boa qualidade.

A fronteira com a África do Sul fica a pouco mais de 30 km de Lobamba, e depois de fazer os trâmites alfandegários e de imigração pegamos uma África do Sul um pouco diferente do que havíamos visto até aqui: predominantemente rural, com plantações a perder de vista dos dois lados da estrada. E não tão marcante como na Suzilândia, mas também aqui parece haver ainda uma parcela de cultura de subsistência, ao lado de áreas nitidamente geridas de forma comercial.

Curiosa, comparada com o Brasil, é a ausência de postos de gasolina ao longo das estradas. É mais fácil (às vezes quase obrigatório) aproveitar a travessia de uma cidade para abastecer. A aproximação de Pretória nos trouxe de volta ao mundo de cidade grande: estrada pedagiada de pista dupla, três ou mais faixas de rolamento e bastante trânsito.

Após chegar ao hotel fomos buscar a mala com a tralha de motociclismo que havíamos deixado com a SAMA Tours. Ficamos conhecendo Jonathan Berman, filho do proprietário da empresa que nos conduzirá até a fronteira de Botswana e Zâmbia, onde encontraremos outro grupo que já está rodando há uns sete dias, partindo de Cape Town.

Estamos hospedados numa área perceptivelmente de alto padrão aquisitivo de Pretoria (Lynnwood) mas mesmo assim as casas do bairro onde moram os Berman (a sede da firma é a casa deles) são absolutamente impressionantes: terrenos de no mínimo uns 1000-1200 m2., muito arborizados e com casas muito grandes e bonitas. Vive-se muito bem por esse lado!

Em frente ao hotel há um complexo de lojas e restaurantes muito bons, de modo que opções para alimentação não faltarão. Já começamos experimentando um deles, e apesar de não ser objetivo da viagem, constatamos que ela está incluindo uma vertente gastronômica: estamos comendo muito bem e barato!


09-10/07
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6
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Sábado-Domingo
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Pretoria

Esses dois dias foram excplusivamente de preparativos para a viagem de moto. Havíamos planejado uma visita a uma mina de diamantes perto de Pretoria, mas desistimos: teríamos que sair do hotel às 7h00, queríamos dormir mais e está frio. Fica para outra...

Depois do café fomos resolver algumas pendências pessoais e devolver o carro de aluguel no aeroporto - sábados a maioria das agências de locadoras fora dos aeroportos fecha na hora do almoço. Como a recepção no aeroporto e transferência para o hotel faz parte do pacote do tour, pedimos ao Jonathan que nos apanhasse lá (são uns 40 km de distãncia de Pretoria) mas ao invés de irmos para o hotel fomos buscar a moto - já levamos capacetes e roupa para o aeroporto.

No fim descobrimos que poderíamos ter deixado essas coisas no hotel: ele havia combinado com o outro casal que sairá junto conosco aqui de Pretoria e passamos pelo hotel para pegá-los. Fomos para a casa dele e primeiro ele fez com cada um dos pilotos uma  revisão da moto, mostrando todas as características dela, ajudando a configurar alguns detalhes das regulagens eletrônicas disponíveis e respodendo a dúvidas que surgiram.

Depois disso tivemos uma sessão de burocracia (assinar contrato, fazer reserva no cartão de crédito para a franquia do seguro, etc.). Como parte dessa atividade cada casal ganhou um livreto, com a capa personalizada (nome do casal) contendo uma série de informações sobre a viagem, inclusive dados geopolíticos e sócio/econômicos sobre os locais que vamos visitar. Muito bem feito.

Ele também fez uma pequena preleção sobre alguns detalhes de tráfego, forma de pilotarmos em grupo e como serão os primeiros quatro dias, que serão guiados por ele. Finalmente cada um escolheu sua camiseta como parte do kit de viagem e viemos para o hotel, com Jonathan nos guiando na moto dele.

E o resto do sábado e quase todo o domingo gastamos reorganizando nossa bagagem para transferir o que precisamos na viagem de moto para as malas da mesma e deixar o resto nas malas que ficarão no carro de apoio. Isso deu muito trabalho, porque nós temos algumas peças, como a roupa de proteção contra a chuva, que são novas e não tínhamos idéia muito clara de quanto espaço ocupariam. E não tínhamos como simular isso com antecedência, porque estamos usando malas completamente diferentes das malas que temos em nossa moto.

Mas finalmente tudo foi devidamente distribuido, e passamos o resto do domingo não fazendo nada de mais, apenas nos 'concentrando' para a partida amanhã, que já terá uma marcante diferença em relação a nossos costumes quando viajamos sozinhos: partida marcada em torno das 8h15. Que madrugada!!! E a previsão de temperatura é de 7-8 graus nessa hora. Brrrrrr.

Bem, de agora em diante não temos muita idéia de quando teremos tempo de escrever e muito menos onde e quando encontraremos recursos para subir páginas. Vamos ver...

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