O passeio foi muito bom, mas abreviado pelo que se tornou uma constante no México: à tarde chove! Lá pelas 16h00 voltamos para o hotel e ficamos o resto do dia trabalhando no site. Ainda saímos à noite para comer uma pizza meio estranha mas boa: ao invés de muzzarela eles usaram queijo gouda.
Ah, no almoço observamos algo que também é uma constante por toda a América Central e México: em muitos restaurantes e cafés toma-se um excelente espresso, na xícara a que estamos acostumados... mas com colheres de café! Até agora não encontramos um único local que tenha colheres de cafezinho. Chega a ficar complicado mexer o café com aquela colherona dentro da xícara pequena.
17/06/2011 - Sexta-Feira: San Cristobal de las Casas - Salina Cruz
Salina Cruz? O que é e onde fica isso? Também não sabíamos e descobrimos sem querer. Por partes: nosso objetivo nesse dia era Huatulco, um balneário na costa do Pacífico. Havíamos nos informado e tomamos a rodovia pedagiada para Tuxtla Gutierrez, capital do estado de Chiapas e primeira cidade maior no roteiro do dia.
Ao longo de nossa permanência no México verificamos que as rodovias pedagiadas aqui são basicamente estradas que permitem um deslocamento muito mais rápido, por não passarem pelos vilarejos e respectivos topes. A estrada em si na maioria das vezes é pista simples, com asfalto razoável mas longe de perfeito.
Pouco depois de Tuxtla (cada nomezinho que encontramos por aqui) Gutierrez pagamos o preço por nosso desprezo por GPSs e não-aquisição de mapas dos países: numa bifurcação perguntamos a duas pessoas para onde seguir e recebemos respostas diferentes. Na falta de um terceiro para 'desempatar' resolvemos seguir a indicação do indivíduo que nos pareceu mais confiável. Errado!
Calculamos que perdemos pouco mais de uma hora e uns cem quilômetros antes de perceber que algo estava errado: queríamos ir para o norte, e de repente vimos uma placa apontando para Guatemala. Bem, podia ser o nome de uma cidade, mas achamos estranho. Pouco depois fomos parados num ponto de controle do exército, e aproveitamos para perguntar. Claro, estávamos errados.
Esses postos de controle do exército merecem comentários: todos os veículos têm que reduzir até quase parar, e o militar que está controlando decide se quer fazer uma verificação ou não. Essa verificação pode chegar ao ponto de abrir e revistar bagagem (aconteceu duas vezes conosco), mas eles não tiram o veículo da estrada para fazer isso: a fila vai crescendo lá atrás enquanto eles executam o procedimento sem a menor preocupação com a fluidez do tráfego. Bizarro!
Bem, voltamos para o caminho certo, mas a essa altura já tínhamos certeza de que não chegaríamos a Huatulco com luz do dia e decidimos parar em Salina Cruz, simplesmente por ser uma cidade que aparecia mais nas placas e portanto deveria ter hotéis. Essa suposição estava correta, mas curiosamente alguns dos que procuramos estavam lotados. Há algumas praias no entorno da cidade, mas não nos pareceu que ela pudesse ser tão procurada por turistas - era sexta-feira. É uma cidade que tem, óbvio, salinas, uma refinaria de petróleo grande e um porto para acompanhar, mas nada disso explica o movimento numa sexta-feira. Por outro lado há algumas praias, inclusive a Playa Brasil, pode ser que seja isso que atrai as pessoas.
Acabamos optando por uma pousada para lá de simples, infelizmente sem verificar detalhadamente o colchão. Depois de instalados fomos ver que acesso à Internet só no corredor, e quando nos deitamos percebemos que o colchão era daqueles em que as molas são cuidadosamente selecionadas para cutucar partes sensíveis do seu corpo. E a água quente era morna...
18/06/2011 - Sábado: Salina Cruz - Huatulco
Completamos o que devia ter sido feito no dia anterior, rodando os 120 quilômetros até Huatulco. Viagenzinha meio travada, pois o litoral do México desse lado é interessante: as montanhas começam bem perto da praia e a estrada sobe pela montanha e desce para chegar às praias, e assim vai a coisa por muitos quilômetros.
Algo que já observáramos em outros países em que se repete aqui: existem muitos taxis fazendo corridas fora das cidades, levando gente de um vilarejo para outro. Para nossa visão de um taxi e suas tarifas, é um pouco difícil imaginar alguém, principalmente gente mais simples, que é que usa esse serviço 'interurbano', tendo recursos para isso. Ainda não entendemos se existe algum subsídio ou como é que funciona essa função do taxi quase como substituto de transporte público.
Huatulco é um lugar muito interessante, desde que você curta muito praia, mar e sol. São nove baías, com pelo menos três praias em cada uma, com as mais variadas características. Algumas nem são acessíveis ou só de barco, mas há para todos os gostos. Quem quiser mais informações dê uma olhada em http://www.huatulco.com.mx/nueva%20imagen/lasbahias.htm.
Em torno dessas baías foram construídos dois tipos de complexos turísticos: principalmente na baía de Tangolunda, estabeleceram-se resorts de alto nível, o que resultou na privatização de algumas das praias. Na cidade de Crucecita e em seu redor estabeleceram-se hotéis de vários níveis, atendendo a todo tipo de público. Há também condomínios, de diferentes níveis.
É um complexo muito bonito, com praticamente todas as grandes vias de circulação cuidadosamente planejadas e com excelente paisagismo.
Infelizmente, mantendo a programação que nos acompanha desde que entramos no México, à tarde começou a chover, e deu para ver muito pouca coisa das praias. Durante a noite a chuva foi acompanhada de uma senhora ventania, que inclusive arrancou algumas árvores e derrubou galhos de outras.
No tempo que sobrou entre as chuvas ficamos sentados num banco da praça central de Crucecita (nosso hotel ficava ali) observando como a vida dessas cidades mexicanas (vimos o mesmo em outras) ainda gira em torno desses locais. Famílias trazem as crianças para brincar e comer o que é oferecido pelos ambulantes e artesãos vendem seus trabalhos.
19/06/2011 - Domingo: Huatulco - Oaxaca
Ao acordarmos vimos os resultados da ventania e ainda chovia. Decidimos que não adiantava continuar ali. Sem a menor pressa preparamos a bagagem e nos vestimos, afinal só tínhamos 280 quilômetros pela frente. Claro que a chuva já havia parado quando estávamos prontos para partir, mas pelo que choveu na viagem acreditamos que a decisão foi acertada.
Partimos e os primeiros trinta quilômetros foram parecidos com os do dia anterior, lentos mas sem maiores dificuldades. Em Pochutla fomos parados por um policial que queria fazer os controles de costume, incluindo revistar nossa bagagem. A moto estava na terra, numa posição que impedia baixar o descanso lateral (ele batia no chão antes de descer completamente) e no fim o policial desistiu da revista. Mas aproveitamos para perguntar sobre o trecho até Oaxaca, e a resposta dele nos assustou: quatro a cinco horas! Para 250 quilômetros??? "Sim, a estrada é na serra e tem problemas de deslizamentos devido à chuva.".
Bom, fazer o que? Mais cedo ou mais tarde teríamos que enfrentá-la. Vamos lá. Que viagem! Para os primeiros 127 quilômetros levamos três horas, com uma parada para vestir a roupa de chuva, que não tiramos até chegar em Oaxaca. Além de nos proteger da chuva essa roupa também nos aqueceu: não sabemos que altitude atingimos, mas a temperatura chegou a uns quinze graus, acompanhada da chuva e de neblina.
Nesse primeiro trecho acabamos parando para descansar num comedor fechado, pois não aguentávamos mais de cansaço. O problema é que não era fácil achar lugar para parar: os olhos estavam 100% grudados na estrada, e quando aparecia um desses comedores só o víamos quando já estávamos praticamente em frente a ele e o acesso normalmente envolvia um degrau para sair do asfalto - acostamento, claro, é totalmente inexistente.
Aliás uma sugestão para quem pretende viajar aos domingos no México: leve seu lanche! A maioria dos comedores e restaurantes ao longo da estrada estava fechada, inclusive nos postos de gasolina. Por outro lado acreditamos que viajar no domingo tenha tornado a viagem um pouco menos horrível: não queremos nem imaginar como seria essa jornada se ainda tivéssemos que dividir a estrada com trânsito comercial.
Depois de quatro horas e vinte minutos saímos da serra - foi uma delícia descer a última ladeira vendo o vale lá embaixo, e imaginamos que os 90 quilômetros faltantes seriam um passeio. Bem, comparado com os 185 anteriores pode-se dizer isso, mas ainda foram muito chatos: obras em trechos longos, topes para todos os gostos e travessia de cidades que reduziam muito a velocidade. Levamos mais duas horas para esse trecho.
Chegamos a Oaxaca totalmente esgotados, depois de um total de seis horas e cinquenta minutos para rodar 280 quilômetros.
20/06/2011 - Segunda-feira: Oaxaca
É uma cidade muito interessante, com um centro histórico que vale a pena conhecer, mas mesmo que não tivesse nada disso teríamos que ficar pelo menos um dia aqui: era o mínimo necessário para nos recuperarmos do dia anterior.
Estávamos numa pousada simples mas bem arrumadinha e limpa, com camas confortáveis, e começamos a analisar melhor os preços que vínhamos pagando. Concluímos (principalmente depois de conversar com um conhecido aqui do México) que os preços de hotéis aqui são muito variáveis de uma cidade para outra, dependendo bastante de relações de oferta e procura.
Nada de surpreendente, mas dificulta um pouco imaginar o padrão de um hotel baseado no preço. Por exemplo, em Salina Cruz ficamos num verdadeiro muquifo por M$ 380,00, e agora estávamos pagando M$ 480,00 por uma hospedagem significativamente superior. Em compensação pagamos M$ 450,00 em Bacalar por acomodações claramente inferiores às de Oaxaca.
Uma dúvida que tínhamos foi respondida nesse dia: na véspera, que além de domingo era Dia dos Pais. a praça principal, o Zócalo, estava apinhada de gente, com show de Mariachis e muitas outras coisas acontecendo. Ficamos nos perguntando se seria sempre assim. É! Apesar da cidade ser grande, capital do estado, fica uma clara sensação de que muita coisa gira em torno dessa praça, até porque alguns dos prédios públicos ficam nela.
Deu para dar um volta pela cidade, ver algumas das atrações turísticas - não estávamos muito a fim de museus naquele dia - mas para variar a chuva encurtou o dia. Mas conseguimos resolver uma pendência e ao mesmo tempo aprender como varia o vocabulário entre os países da América espanhola: queríamos cortar o cabelo e entramos num salão pedindo no nosso melhor portunhol para cortar o pelo. A cabeleireira imediatamente se prontificou para cortar nosso cabello. Assim não dá, quando se pensa que aprendeu eles mudam o nome!!!
Havíamos almoçado tarde num restaurante bem local perto do hotel, e no fim nem saímos para comer mais nada.
21/06/2011 - Terça-feira: Oaxaca - Oaxtepec
Estávamos em dúvida sobre ficar mais um dia em Oaxaca, mas de forma análoga a Huatulco optamos por seguir viagem: com a famosa chuva vespertina os dias rendiam muito pouco do ponto de vista turístico, e estamos com um pouco de pressa para chegar aos EUA: temos que confessar um certo cansaço com a América Latina, e não podemos atrasar muito nossa chegada ao Alasca.