Mais um comentário: já estamos em El Salvador escrevendo isso, e até agora, desde que saímos do Brasil, nenhum cartão de crédito ou o Visa Travel Money solicitou o código de segurança (PIN). Em todos os estabelecimentos em que usamos esses cartões para fazer pagamentos foi solicitada a assinatura no papelzinho e com raríssimas exceções não foi solicitado documento. Portanto, cuidem muito bem de seus cartões em viagens como essas: se perderem podem se preparar para dissabores. E o que acabamos de descrever não se aplica à Venezuela: lá não usamos cartões e não sabemos como seria.
Bem, com isso nossa visita à cidade de Panamá estava encerrada. Só faltava preparar a partida no dia seguinte e dormir. Mas antes um marco da viagem: durante esse dia completamos os primeiros 10.000 km efetivamente rodados - há que adicionar as viagens ´por água (Belém - Manaus e Cartagena - Cartí) para ter uma quilometragem real de viagem, mas medido com nossos recursos é isso.
23/05/2011 - Segunda-feira: Cidade de Panamá - David
Partimos sem pressa, passando ainda na concessionária BMW para carimbar a revisão no manual. Pegamos a estrada em direção ao oeste e logo ficamos um pouco inseguros sobre o que fazer. Nossa forma de andar em qualquer lugar é observar os motoristas locais e acompanhar seu comportamento para evitar atrair atenção dos 'puliças'.
O que observamos nesse trecho foi todos os motoristas a 100-105 km/h, praticamente sem exceções. Isso numa excelente estrada de pista dupla e bem pavimentada. Demoramos um pouco para encontrar uma placa que confirmasse que a velocidade máxima é 100 km/h, e ela é cuidadosamente respeitada! Aparentemente a polícia é muito eficiente na imposição desse limite.
Bem, se a tocada é essa, que seja. A viagem ficou mais demorada e mais monótona - levamos 6h30m para andar 450 km numa estrada quase perfeita, mas preferimos assim a arriscar problemas com a polícia. E mesmo assim tivemos esse problema: num ponto onde a velocidade máxima caía para 50 km/h (velocidade em pueblos) passamos a 75 km/h e fomos parados por um policial. Argumentamos não ter visto a placa e ele fez um senhor teatro para finalmente nos liberar. Temos a impressão que ele esperava um oferecimento de 'contribuição', mas como não fizemos nenhuma menção disso acabo desistindo.
Chegamos em David e resolvemos gastar um pouco mais (para padrões panamenhos) e ficar num Best Western: muito bom hotel por US$ 66,00.
24/05/2011 - Terça-feira: David - San Isidro de El General (CR)
Antes de mais nada um dado 'estatístico' desse trecho de viagem: entre David e a fronteira enfrentamos a temperatura mais alta até agora: 37 graus! Isso é quente!!!
Nosso plano nesse dia era atravessar a fronteira e chegar a San Jose, capital da Costa Rica. Acabamos saindo tarde de David (10h40) e meia hora depois surgiu o primeiro imprevisto: na saída do Panamá o funcionário da Aduana constatou que lá no aeroporto haviam digitado o número da placa da moto errado. Fiquei tão preocupado em revisar as datas de entrada e validade naquele momento que esqueci dos demais dados!
Isso nos custou uma boa hora de funcionamento das engrenagens burocráticas panamenhas, mas no fim fomos liberados. Um comentário adicional: do jeito que fizemos a passagem pelo Panamá é barata (só foi cobrada uma taxa de saída de US$ 1,00 por pessoa) e os procedimentos são simples e tranquilos. Porém se a entrada do barco é por Colón tem que se pagar uma fumigação do veículo e em todas as fronteiras, fora Cartí/aeroporto, é exigido que se faça seguro de responsabilidade civil.
A entrada na Costa Rica é um pouco mais trabalhosa: a imigração é muito tranquila, mas como sempre a importação temporária da moto é que dá trabalho. É preciso fazer seguro (US$ 16,00) e o pedido de cópias foi uma surpresa: tínhamos nosso estoque de cópias de passaporte, CRLV do veículo, carteira de motorista, mas lá pediram cópia de todas as páginas do meu passaporte! Claro que não tínhamos isso e tivemos que morrer com mais US$ 1,70 de cópias.
Valores em dólares americanos? Sim, na Costa Rica dólares e colones (a moeda local) são totalmente intercambiáveis, e em muitos lugares quando vêm que se é turista estrangeiro já dão os preços em dólares. Até mesmo nos caixas automáticos de bancos é possível escolher a moeda ao fazer um saque: dólar ou moeda local. Aliás isso é verdade também na Nicarágua e Honduras.
Para completar a demora meu nome saiu errado na autorização de trânsito e foi necessário fazer uma correção. Ainda bem que dessa vez peguei o erro no ato. Mas descontando a demora no Panamá por causa da placa da moto foi uma passagem tranquila: 1h50m, tempo bom para as fronteiras centro-americanas.
Fazer câmbio para ter alguns colones no bolso também é fácil: há um guichê de câmbio de um banco ao lado do guichê onde se faz a documentação da moto. O único problema pode ser horário: a funcionária do banco faz uma pausa para almoço. E não esquecer também que aqui o relógio volta mais uma hora em relação ao Panamá.
Completada a burocracia, lá fomos nós para a estrada em direção a San Jose. Por falta de informações mais precisas optamos por seguir pela estrada principal, no caso a Panamericana. Os primeiros 30-40 quilômetros nos deixaram com mais medo ainda de deixá-la: eram bem ruinzinhos.
Dois dias depois ficamos sabendo que a estrada que corre pelo litoral do Pacífico é muito boa, deveríamos ter escolhido esse caminho. A Panamericana melhora bastante depois do trecho inicial, mas é uma estrada de pista simples, que vai serpenteando pelas montanhas da Cordilheira Central, e tem um tráfego bem intenso de caminhões. Impossível andar depressa, e ainda fomos agraciados com um belo aguaceiro que nos pegou num ponto onde era impossível parar. Quando conseguimos parar já estávamos bem molhados, mas mesmo assim vestimos a roupa de chuva.
Foi bom, porque continuou chovendo e só parou pouco antes de chegarmos a um posto onde fizemos um pausa para comer e descansar. Foi nosso primeiro contato com a comida costa-riquenha, que se demonstrou muito saborosa. É interessante que nesses países há restaurantes que oferecem comida em buffet, mas você não faz seu prato: a funcionária do restaurante vai colocando a comida que você pede no prato e no caixa é feito um preço baseado no jeitão do prato - nada de balança.
Algumas coisas que chamaram a atenção nesse trecho: a sinalização das estradas na Costa Rica é bastante boa. Há uma quantidade enorme de rios que a estrada cruza, e ainda mais escolas que rios à beira da estrada. Tínhamos a impressão que a cada 3-4 quilômetros havia uma escola. E, claro, redução de velocidade em cada uma delas. E um fato que poderíamos ter sabido com antecedência foi que dois terços da população da Costa Rica vive nas montanhas, que são bem mais altas do que imagínávamos.
Vestimos novamente a roupa de chuva - e foi uma decisão acertada, pois ainda choveu bastante - e fomos andando, já com a decisão de parar em San Isidro de El General: sabíamos que essa seria a última cidade de porte um pouco maior que conseguiríamos atingir antes de cair a noite.
Achamos um hotel bem razoável à beira da estrada, onde também jantamos uma sopa para completar o almoço comido às 16h00. Eu comi uma sopa de feijão totalmente diferente do que estamos acostumados no Brasil: bem líquida, com alguns feijões inteiros, e mais condimentada (pedaços de pimentão e outros temperos).