Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Costa Rica

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25/05/2011 - Quarta-feira: San Isidro de General - San Jose

Esse dia começou com uma experiência gastronômica: pedimos o desjejum típico, que além dos indefectíveis ovos e torradas traria também pinto. Surpresa: pinto é arroz com feijão! Não como estamos acostumados, mas arroz que foi colocado em algum caldo igual ou muito parecido com a sopa que tomei no dia anterior - ele fica bem escuro, na direção da cor do feijão - e grãos de feijão misturados no arroz, incluindo todos os temperos da tal sopa. Arroz e feijão no café da manhã, e ainda por cima temperados daquele jeito ultrapassam a flexibilidade de nosso paladar...
Mas no fim estávamos bem alimentados e partimos. Logo depois de sair da cidade a estrada começou a subir muito rapidamente, tanto que em vinte minutos chegamos a um mirante de onde podíamos ver a cidade lá embaixo.

Tiramos algumas fotos e prosseguimos, sempre subindo. E começou a esfriar! A temperatura caía, e caía e nós sempre na dúvida se parávamos para vestir algo mais quente ou se já teríamos chegado ao limite. Finalmente a temperatura estava em 12 graus - no dia anterior tivemos o recorde de máxima (37 graus) e agora tínhamos o recorde de mínima.
E ainda não havíamos nos agasalhado. E aí começou a chover! Que raiva: acabamos sendo forçados a vestir a roupa de chuva em condições inadequadas, quando poderíamos tê-la vestido antes e viajado mais confortavelmente. E não havia opção de não vestir a roupa: choveu muito, e naquela temperatura não teríamos aguentado. Não sabemos que altitude atingimos nesse trecho, mas como San Jose fica a uns 1.200 metros, acreditamos que chegamos bem perto dos 2.000.

A chegada a San Jose foi como acontece com frequencia ao longo de toda a viagem: trânsito confuso e placas com nome de ruas praticamente inexistentes (depois lemos que isso é uma característica do país). Mais uma vez fomos salvos pelos transeuntes ultra-solícitos que nos indicaram como chegar ao hostal.

Aliás falando em hostais e albergues, estamos chegando à conclusão que eles não são muito econômicos para quem solicita quarto privado com banheiro: as acomodações são basicamente de albergue (espartanas) e o preço muitas vezes fica uns 15-20% abaixo do que se pagaria num hotel que ofereceria um pouco mais de conforto. Fica uma questão de ver o peso desses 15-20%: num país onde uma diária média é de US$ 100 ou mais, essa porcentagem tem peso, mas na América Central, onde se encontra acomodações decentes em torno dos US$ 50, vale a pena pensar.

Mas esse hostal onde ficamos tinha pelo menos um aspecto histórico interessante para torná-lo mais atraente: o prédio pertenceu a um ex-presidente do país, José Figueres Ferrer, que teve um papel importante na história, extinguindo o exército (até hoje a Costa Rica não o tem) e outorgando às mulheres o direito de voto. Realmente um homem importante! O prédio é muito bonito, e nosso quarto tinha um pé direito incrível, certamente acima dos três metros. E vale a pena pagar em espécie: economiza-se mais US$ 5,00 numa diária de US$ 50,00.

Em compensação havia o lado negativo: uma estranhíssima linha férrea passa na frente do hostal, e toda vez (frequente) que o trem passa por ali faz um belo concerto de apitos, pois não há cancela nem semáforo para reter os carros - o apito é o único aviso. Mas pelo menos ele não trafega durante a noite, então não incomodava nos momentos críticos.

Quando estávamos acomodados já eram quase 14h00. Demos uma olhada na Internet e estávamos pensando em sair para dar uma volta na cidade quando a marca registrada da Costa Rica (pelo menos para nós) se manifestou: caiu uma poderosa chuva, acompanhada de trovoada. Nem dava para pensar em sair. A chuva só amainou quando já estava escuro, e só saímos para jantar num restaurante chinês próximo - nossa primeira refeição de comida não-local, aquele fast food árabe em cidade de Panamá não conta para nada.

Um detalhe interessante: os costa-riquenhos (costarricenses) chamam a si mesmos de ticos (ou ticas para mulheres). O problema é que eles falam de ticos e ticas como se todos soubessem disso! Até a gente perceber isso fica difícil entender algumas frases.
26/05/2011 - Quinta-feira: San Jose (Volcán Poás)

Nesse dia fomos visitar o vulcão Poás. Pesquisando no dia anterior, ficamos sabendo que com ônibus público só chegaríamos ao vulcão lá pelas 11h00, e muitos relatos diziam que bem antes disso as nuvens fechavam completamente a vista. Optamos por ir de moto, saindo umas 7h00 do hostal. Acabamos saindo quase às 7h30, mas chegamos ao vulcão às 9h00, que era nosso objetivo. E a cratera estava totalmente encoberta pela névoa!
Ficamos por ali, conversando com um casal alemão e seu guia, e depois de uma meia hora a névoa até abriu um pouco, mas ainda ficou com gosto de quero mais.

Mas enfim, se não dá, não dá! Seguimos até a Laguna Botos (formada numa cratera secundária do vulcão), que deu para ver bem minutos antes da névoa escondê-la e voltamos para o centro de visitantes, onde assistimos a um vídeo que apresentava informações sobre o vulcão, incluindo lindas fotos do que gostaríamos de ter visto.
Ao sair da sala de vídeo vimos que o céu estava quase azul, e ouvimos pessoas que voltavam da cratera que o tempo abrira. Lá fomos nós quase correndo de volta, e felizmente conseguimos ter uma vista decente da cratera. Nâo havia sol, mas em compensação fomos brindados com uma bela coluna de vapor produzida pelo vulcão - quando ainda estava tudo fechado havíamos ouvido o barulho de uma erupção.

Nem sempre é assim (nem deve ser), mas dessa vez a demora em voltar acabou recompensada.
Fomos embora mais felizes, e aproveitamos para almoçar num restaurante típico da região - bem típico, novamente um buffet parecido com o da viagem de entrada no país.

E na volta fomos novamente 'atacados' pela chuva. E que chuva! Chegou um ponto em que estávamos desesperados para parar, pois estávamos numa serra muito sinuosa, sem acostamento e sem sinalização, mas não encontrávamos um posto ou qualquer outra oportunidade de abrigo. Quando finalmente um lugar desses apareceu já não chovia tanto e já havíamos saído da serra, então seguimos para o hotel.

Essas chuvas seguidas e de grande intensidade nos desanimaram um pouco, e decidimos seguir em frente no dia seguinte. Olhamos o mapa procurando alternativas, e acabamos optando por uma praia, para descansar um pouco e curtir um pouco de calor - em San Jose dormíamos com colcha por cima do lençol, embora durante o dia fosse quente.


27/05/2011 - Sexta-feira: San Jose - Playa Hermosa

Saímos de San Jose como sempre com nosso ritmo de aposentados: 10h45! A estrada é boa mas meio travada pelo número de vilarejos atravessados e pelo trânsito de caminhões em pista simples. Mas o grande acontecimento do dia foi o encontro com um grupo de brasileiros no meio da estrada. A sequencia de eventos toda foi meio inacreditável: o Paulo Cândido, que nos acompanha pelo site e pelo SPOT e também acompanha o Renato Lopes, viajante escritor conhecido por muitos, já havia comentado que estávamos muito próximos.

Mas como cada um tem seus planos e objetivos, não fizemos muito esforço para combinar um encontro, pois essas coisas não são tão fáceis assim. Bem, lá vamos nós pela estrada quando vimos um grupo (no momento não deu para contar os quatro) de motociclistas na beira da estrada. Acenamos, mas como não tínhamos idéia de quem fossem seguimos reto. Eles, porém, viram que a moto era brasileira, e o Renato veio atrás de nós sinalizando uma parada.

Que coisa bonita e gostosa um encontro desses. O Renato está viajando com mais um parceiro, e na Colômbia encontraram dois paulistas que estão seguindo com eles por algum tempo. Conversamos um pouco, ganhamos adesivos em nossa moto e esquecemos de dar os nossos, e eles seguiram viagem numa tocada bem mais rápida que a nossa. Mesmo assim, chegando em Liberia paramos para nos informar sobre o caminho para Playa Hermosa, e eles estavam no mesmo posto comendo alguma coisa. Mais um pouco de conversa e nos despedimos.

Para nós restou um trecho curto e fácil de quarenta minutos até nosso destino. Playa Hermosa é realmente bonita, mas como outras que vimos, inferior a praias brasileiras. O que a diferencia é a evidência muito marcante do que já havíamos lido e visto na Costa Rica: esse país tornou-se uma Meca para aposentados norte-americanos, que estão literamente invadindo algumas áreas. Ali há uma sucessão de condominios - apartamentos e casas - cujos proprietários são quase todos estrangeiros, com predominância clara de norte-americanos. Em alguns casos são pessoas que não moram lá o ano todo, de modo que havia muitas propriedades fechadas.
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Inglês é língua corrente, até porteiros e guardas falam a língua. A gente via placas e faixas que davam a nítida impressão de se estar num país de língua inglesa.

E o hotel em que ficamos também tinha um jeitão de Flórida: o paisagismo dos jardins e a própria construção tinham esse aspecto, e se não fossem os mosquitos seria um lugar delicioso! O único real problema é que o restaurante é totalmente aberto, e o jantar era acompanhado pelo ataque dos bichinhos.
O hotel em si não é caro (pelo menos nessa época do ano - US$ 63,00) para um brasileiro (no Brasil não se encontra um hotel daquele padrão por menos que R$ 150,00) mas esse valor é meio alto na Costa Rica. Já o restaurante é um tanto caro - mas também é muito bom!

Nesse dia só demos uma voltinha pela praia para conhecê-la, tomar um banho delicioso - descobrindo que o Oceano Pacífico também tem águas quentes) jantamos no hotel e fomos dormir.


28/05/2011 - Sábado: Playa Hermosa

Passamos quase todo o dia fazendo uma das coisas que nos havíamos proposto a fazer em Playa Hermosa: atualizar este site. Só demos uma volta pelo lado 'urbano' da praia, olhando os condomínios e procurando entender um pouco como é constituída a ocupação deles.

Á noite estávamos sentados no restaurante mexendo no notebook e pretendíamos sair para uma pizzaria na mesma rua do hotel quando começou... a chover! A mesma chuva miserável de San Jose também cai em Playa Hermosa. E por um problema de drenagem no hotel, o restaurante ficou totalmente inundado. Passamos bem meia hora sentados na escada ao lado da recepção apreciando a luta dos funcionários com a água.

Quando finalmente se conseguia andar de novo pelo restaurante já era tarde e optamos por jantar lá mesmo, inclusive porque a chuva havia deixado de ser torrencial mas ainda caía com vontade. Mesmo para voltar para o quarto ainda tivemos que usar o guarda-chuvas do hotel.


29/05/2011 - Domingo: Playa Hermosa

Pegamos a moto e fomos conhecer as praias vizinhas. Há praias mais badaladas, como Cocos e uma praticamente sem infra-estrutura turística (Panama), mas Hermosa é, como praia, a mais bonita das que vimos. Mesmo assim cada uma tem seus atrativos. Panama, por exemplo, é quase uma lagoa de tão calma.

Almoçamos num hotel em Playa Hermosa, suficientemente tarde (16h00) para dispensar o jantar. O resto da tarde e noite foi gasto mexendo no site. Enfim, dois dias de puro descanso - e isso é o que Playa Hermosa tem de melhor para nos oferecer.


30/05/2011 - Segunda-feira: Playa Hermosa - Granada (NI)

E nesse dia cruzamos a fronteira com a Nicarágua. Essa foi outra razão para escolher Playa Hermosa como ponto de parada: em menos de duas horas estávamos na fronteira.

A saída da Costa Rica é tranquila, só foi um pouco mais demorada por um erro crasso de planejamento: deixamos para cruzar na segunda-feira para evitar possíveis problemas de câmbio ou aduana fechada no domingo e o que aconteceu? Dia 30/05 é dia das mães na Nicarágua! Feriado, e mais gente que o normal cruzando a fronteira. Muitos nicas (assim se auto-denominam os nicaraguenses) moram e trabalham na Costa Rica.

Cuidado: trocamos os colones (moeda costa-riquenha) restantes por córdobas (Nicarágua), o que não é um problema: mesmo com câmbio ruim, é uma forma confortável de se livrar do restinho de dinheiro do país do qual se está saindo. Mas o cambista, com o argumento de que não haveria câmbio na Nicarágua por causa do feriado, me convenceu a trocar também alguns dólares para ter mais dinheiro local. Completamente desnecessário: a maioria das taxas cobradas pela Nicarágua na entrada têm que ser pagas em dólares, e as poucas em córdobas podem ser pagas em dólar.

A entrada da Nicarágua chega a ser assustadora: primeiro uma quantidade inacreditável de caminhões que literalmente escondem os edifícios que temos que procurar. E para completar há um verdadeiro enxame de tramitadores que querem a todo custo te ajudar com a burocracia. Esses até que dá para afastar sem muito trabalho: quando eles percebem que se fala espanhol o assédio diminui.

Vamos ao procedimento: primeiro tem que se fazer a fumigação da moto - não sabemos contra que, mas tem que ser feito. E para isso é necessário pagar a primeira taxa: C$ 67 ou US$ 3. De lá segue-se para a imigração. Se houver fila, um conselho: tente evitar a fila onde há estrangeiros como nós. Os locais passam relativamente rápido, mas os estrangeiros têm que pagar US$ 14,00 de taxa de entrada e isso leva tempo (coleta e troco do dinheiro e preenchimento de recibo pelo funcionário).

Pronto, nós entramos no país! Agora falta a moto. Primeiro, depois de preencher um formulário de aduana muito parecido com o que preenchemos quando voltamos ao Brasil, este tem que ser assinado por um fiscal que olha a moto e, eventualmente, a bagagem (não foi nosso caso). Esse funcionário cuida de carros, motos e pedestres com bagagens imensas, e não é fácil conseguir sua atenção.

Uma hora consegue-se passar por essa etapa e agora é preciso fazer o seguro da moto (US$ 12,00) e pagar uma taxa de circulacion (??): US$ 5,00 (pode ser paga em córdobas). Agora é necessário coletar mais uma assinatura no formulário de aduana, mas para nós isso foi fácil: o policial responsável estava sentado na frente dos escritórios onde fizemos o seguro e circulacion.

Não acabou não: agora é que se vai tirar a permissão de importação temporária do veículo. Isso é feito em outro prédio, uns 100 metros afastado. O procedimento já é ridículo: há duas funcionárias sentadas lado a lado, cada uma atendendo a uma 'janelinha'. Entra-se na fila, entrega-se os documentos à primeira, que faz lá seus procedimentos e nos devolve os documentos para que entremos na fila ao lado para obter os carimbos finais da segunda funcionária. Não perguntem por que uma não pode passar os papéis para a segunda!

Mas tudo isso depende, é claro, das funcionárias estarem presentes. Quando cheguei ao guichê elas estavam em pausa de almoço, e a espera foi de uns vinte minutos. Ah, mas finalmente estávamos com o famoso papel. Partimos, e fomos obrigados a voltar porque mais uma vez fui desatento: o número da chapa da moto estava errado! A correção até que foi rápida e pudemos realmente partir, não sem antes pagar mais US$ 1,00 por pessoa de uma taxa local do município.

Temos sérias dúvidas se essa taxa realmente existe, mas estávamos cercados por dois ou três indivíduos de uniforme, e até recebemos um recibo pelo pagamento. E depois de três horas (total para os dois lados) saímos da aduana e realmente entramos na Nicarágua. Essa entrada também tem seus problemas: a estrada é estreita e sem acostamento, e forma-se uma fila de caminhões aguardando passagem pela aduana. A gente vai pilotando e torcendo para que não venha nenhum carro no sentido contrário, pois dificilmente haverá espaço para ele e a moto no que sobra da estrada.

Mas não aconteceu nada e tocamos para Granada - uma viagem tranquila de uma hora e meia em estrada calma e bem pavimentada. Só as escolas e vilarejos continuam diminuindo a velocidade.

A entrada em Granada é para variar meio caótica, e fomos apanhados de surpresa por uma expressão coloquial: pedimos informações sobre como chegar ao centro e a senhora disse que pegássemos uma certa rua até o alto e virássemos à direita. Ficamos confabulando como reconheceríamos ter chegado ao alto da rua, até que percebemos que deveríamos procurar pela placa de Alto, que é a nossa placa de Pare (hexágono vermelho).


Percebemos depois em outros países também que o pessoal usa essas placas como referência: siga por essa rua até o terceiro alto.

Tínhamos o nome de uma pousada, mas fomos interceptados por um agenciador de outra. Insistimos em olhar primeiro a 'nossa', mas decidimos tentar outra coisa e acabamos ficando na pousada 'dele'. Simples, mas agradável e simpatica, a começar pelo detalhe da arrumação das toalhas na cama.
Ah, uma loucura de Granada são os endereços: não se usam números, e sim referências em relação a outros logradouros como ruas ou prédios públicos. O exemplo mais maluco que encontramos foi um local que procuramos para tomar café da manhã: o endereço era "Terminal de ônibus para Manágua, meia quadra ao sul e meia quadra a oeste". Ou seja, o tal terminal fica no meio de uma certa quadra (trate primeiro de descobrir onde fica o terminal). Agora, com uma bússola na mão, ande meia quadra (até a esquina) para o sul e dobre para oeste até o meio da quadra. Fácil, né?
Nos instalamos na pousada, onde nossa moto ficou guardada de forma um tanto inusitada: ela ficou na sala de entrada da pousada, e para chegar lá o pessoal da pousada colocou uma rampa de madeira no meio-fio para facilitar a subida no degrau bem alto que se forma nas calçadas. E fomos passear um pouco pelo centro histórico e almoçar. Granada é diferente de Cartagena ou Panamá: as construções e fachadas são bonitas, mas o charme real está no interior das edificações: praticamente todas têm um pátio interno, ajardinado e muitas vezes com uma fonte de água no meio. O ideal para curtir essa cidade é ficar entrando em cada hotel ou pousada para admirar seu interior, e ficar espiando para dentro das casas, cujas portas internas de madeira normalmente estão abertas, no máximo com uma porta de grade de ferro externa como proteção.
Comemos no calçadão (Calle la Calzada) onde se concentram os restaurantes da cidade. Há de tudo, mas como queríamos comer algo típico fomos parar no Comidas Típicas, y más... Bom restaurante, com uma grande variedade de opções de comida local.
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