Somos confrontados com uma natureza que fez nascer árvorezinhas que agora, de tão enormes que são, nos obrigam a deitar no chão para tentar enxergar sua ponta... Os penhascos surgem no meio da floresta e das matas e de repente lá estão eles, quase que impedindo nossa passagem.
Ficamos um dia, mas pode-se facilmente passar diversos dias lá. Mesmo que se limite os passeios àqueles que se pode fazer de carro associado a caminhadas curtas, dá para gastar de dois a três dias: as distâncias entre dois pontos de interesse são grandes (raramente menos que uns vinte quilômetros), e a velocidade de deslocamento baixa. Gastamos praticamente o dia inteiro para visitar Mariposa Grove (sequoias) e Glacier Point, e só fizemos metade da menor trilha de Mariposa Grove.
Agora, quem está disposto a caminhar para valer ou encarar uma bicicleta de trilha vai querer ficar uma semana lá. Aliás, a entrada de US$ 20,00 por veículo dá direito a entrar por sete dias! Mas o importante é não deixar de ver Yosemite!
11/07/2011 - Segunda-feira: Mariposa - Redding
Esse dia começou como uma viagem sem rumo claramente definido. Queríamos avançar para o norte, e basicamente fomos rodando até onde achamos que estava na hora de parar. Ao longo da viagem tivemos a sorte de colecionar subsídios para definir como seguir: primeiro encontramos, numa parada de descanso, o que se poderia chamar de típico caipira americano. Ele fez uma lista de lugares interessantes em Oregon e Washington, que nós aproveitamos bastante.
Mais adiante encontramos um motociclista 'disfarçado' (estava de carro) que puxou conversa e acabou nos dando também outras dicas. Essas não seguimos muito porque elas representavam uma volta que não tínhamos tempo para dar. É muito bom conversar com esse pessoal, embora nem todos sejam receptivos, ou talvez nós não o sejamos, mas quando dá certo pensamos que precisaríamos de pelo menos uns dois meses em cada estado para ver, pelo menos, metade do que há para ser visto.
Mas enfim, fomos rodando até Redding, onde achamos que era hora de parar, e foi o que fizemos. Tipica parada de meio de viagem: procurar motel, comer, e andar um pouco pela redondeza para esticar as pernas. Primeiro um pequeno susto: parte do motel em frente ao nosso era um monte de escombros carcinados; havia se incendiado no dia anterior.
E como acontece muitas vezes, nossa caminhada trouxe uma bonita surpresa: o rio Sacramento, que já serpenteava acompanhando a estrada e cruzando-a diversas vezes, também corre através de Redding. E em nosso passeio encontramos, na margem do rio, um parque, muito grande e com lugares para fazer piquenique, um parque aquático, quadras de tudo quanto é esporte: futebol, soccer, pista de skate, e o mais interessante, um setor de proteção ao salmão na época dele vir do mar para o rio, que eles chamam de 'escada de peixes' (fish ladder).
A prefeitura construiu uma barragem no rio para coletar água para irrigação, e para assegurar que os salmões continuem podendo subir o rio para desovar, fizeram uma espécie de labirinto com desníveis próximo à margem para que os peixes possam usar para contornar a barragem. E o mais legal é que fizeram quatro janelonas com vidro, abaixo do nível da água, para que se possa observar essa subida. Só não ficou claro como os peixes ficam sabendo que é por ali que devem subir...
E uma coisa interessante que aprendemos sobre os salmões do Pacífico: eles nascem 'lá em cima' no rio e vivem aproximadamente um ano lá antes de descerem para o mar. Na descida eles sofrem alterações no organismo para fazer a transição da água doce para água salgada.
No mar eles vivem uns sete anos, e quando chega a hora de desovar eles sobem novamente o mesmo rio onde nasceram - eles conseguem identificar o rio pelo cheiro. E novamente o organismo se adapta à água doce. E durante toda a subida, que pode chegar a mais de 2.000 quilômetros, eles não se alimentam, o que acaba provocando sua morte depois da desova - não têm mais forças e simplesmente se deixam levar pela água do rio até morrerem.
Ah, e os dois sexos sobem o rio: a fêmea desova e o macho fertiliza os ovos.
Os salmões do Atlântico são diferentes: eles passam por dois ciclos de reprodução: após a primeira desova eles descem de novo para o mar. Muito interessante tudo isso!
Seria melhor ainda se pudéssemos ver os salmões subindo, mas logicamente não era a época certa, como também não foi a época certa de se ver as baleias nas praias da Baja Califórnia, no México, além de muitas outras atrações para se ver. Mas não tem problema, pois tudo o que temos visto já nos deixa encantos e agradecidos.
E esse cuidado de preservação da natureza, inclusive com investimentos nada irrelevantes, é mais uma vez uma coisa que emociona e entristece quando pensamos como estamos longe disso no Brasil.
12/07/2011 - Terça-feira: Redding - Crater Lake (OR)
Um dia maravilhoso graças a nossos encontros e orientações do dia anterior. Fizemos um traçado totalmente baseado nas dicas do 'nosso capira' e cada minuto valeu a pena.
Primeiro tocamos direto pela I 5 para o norte, mas logo após entrar no Oregon desviamos para visitar uma cidadezinha chamada Jacksonville. É uma cidade que parece ter parado no tempo, com construções antigas e também novas no estilo do século retrasado.
Nem paramos, só demos uma rodada, inclusive seguindo o bondinho turístico para que ele nos mostrasse onde ir. Mas essa passada rápida deu chance de ver como é charmosa essa cidade.
Dali tocamos para o Crater Lake - como diz o nome, um lago na cratera de um vulcão. A estrada para lá já é algo especial: no meio de uma floresta muito densa, que em vários trechos nem permitia ver o céu. Antes de chegar ao destino tivemos a oportunidade de ver a garganta de um rio relativamente pequeno (Rogue River) escavada na lava, muito interessante.
E fomos novamente serra acima. O tempo foi fechando, esfriando e começou uma leve chuva. Nosso plano era deixar a visita ao lago para o dia seguinte - nesse dia só entraríamos no parque e dormiríamos onde desse. E esse 'onde desse' foi ungido por muita sorte: ao chegarmos ao parque, descobrimos que só há um hotel lá em cima, na beira da cratera (nem quisemos saber quanto custa) e outro onde estávamos, perto da entrada, com área de camping (Mazama Campground) que oferece 229 posições para campistas e um conjunto de 24 cabanas para turistas - quartos de motel construídos na forma de cabanas (quatro quartos - totalmente independentes, como apartamentos - por cabana), e sem TV, telefone, internet. Sinal de celular então...
Fui para a recepção perguntar se havia lugar e a resposta foi: "estamos lotados, mas estou tentando obter lugar para este casal (que estava na minha frente) no hotel lá de cima. Se eu conseguir teremos um quarto livre". Felizmente a negociação do casal em questão deu certo, e conseguimos nosso quarto. Nem perguntei o preço! A alternativa seria sair de novo do parque e procurar acomodação em cidades próximas, nenhuma a menos de quarenta quilômetros e sem qualquer certeza de encontrar alguma coisa.
Ainda havia neve por tudo quanto era lado, pois o inverno tinha sido muito rigoroso com 20% a mais de neve do que é costumeiro. Muitos hóspedes, que nesta época vão lá para andar de bicicleta ou caminhar pelas trilhas, haviam inclusive cancelado a reserva do hotel ou ficado somente uma noite ao invés de duas e isso, para nós foi bom, pois pegamos nosso quarto devido a uma dessas desistências.