28/06/2011 - Terça-feira: La Paz - Loreto
Chegando a La Paz, depois da travessia muito confortável e tranquila do Golfo da Califórnia, tivemos primeiro que passar por uma inspeção do exército. Essa inspeção era separada para veículos e seus condutores e para os passageiros. Beth foi para a fila de 'pedestres' e eu fui para a fila dos veículos.
Quando chegou minha vez vi um soldado caminhando ao lado da moto com um aparelho que já havia visto antes: é uma peça de plástico ou metal que lembra uma coronha de arma e a noventa graus uma vareta metálica que lembra uma antena de automóvel - faz pensar naquelas forquilhas de procurar água... Perguntei a ele o que era e ele disse que era um detector de drogas - eu já desconfiava.
O que eu não desconfiava é que eu seria 'selecionado' pelo aparelho: o soldado passou de um lado da moto, voltou pelo outro, passou de novo, pela frente, por trás e me mandou para outro posto de inspeção. Chegando lá me perguntaram se eu era usuário de drogas. Respondi que não, mas que estávamos levando uma pequena farmácia e suprimento de medicamentos de uso diário para cobrir a duração estimada da viagem - dez meses.
Tive que abrir o baú e tirar todos os recipientes contendo medicamentos para inspeção, e enquanto um soldado revistava isso fiquei discutindo futebol com o outro - no fundo foi tranquilo, eles cumprindo seu papel e eu o meu. Afinal, só se houvesse má fé da parte deles poderia haver problemas, e nem ali nem em nenhuma outra ocasião vimos qualquer demonstração de soldados que extrapolasse seu papel de agentes de segurança.
Bem, tudo novamente guardado voltei para o terminal do navio para pegar a Beth e tocamos em frente. Confirmando o plano original, decidimos ir direto para a cidade de Loretto, também no golfo. Essa viagem é um pouco chata porque atravessa-se a península quase até o Oceano Pacífico para depois voltar para a costa do golfo.
A estrada começou bem, pista dupla, bom asfalto. Mas depois a pista dupla se tornou pista simples e naquele mesmo esquema de sempre: sem acostamento, sobe serra, desce serra, entre em vale, alguns caminhões e conforme subíamos esquentava mais. Essa viagem é um pouco chata porque a pista sai do leste da Baja Califórnia, indo em direção oeste, quase até o Oceano Pacífico (chega a uns 30km de distância), para depois voltar novamente por 122 km em direção ao Golfo da Califórnia.
Todo o percurso feito na Baja Califórnia foi em ziguezague: ora em direção ao Pacífico, quando a temperatura ficava bem fria, ora em direção ao Golfo da Califórnia, quando a temperatura subia. Mas ao chegar em Loretto vimos que compensou esse vai-e-vem, pois a cidade é muito agradável, tranquila, porém muito quente e úmida durante o dia. O calor era tanto que depois de almoçar - num restaurante sem ar condicionado - nos escondemos no quarto do hotel e ficamos lá até quase 19h00! Só então saímos para passear um pouco, e mesmo assim ainda estava bem quente.
Foi o nosso primeiro dia em Baja Califórnia e ficamos impressionados com a presença de desertos áridos de montanhas e serras e com vegetação rasteira e muitos cactos, mas muitos cactos mesmo, de vários tamanhos e formas diferentes.
É uma variedade muito grande e interessante de vegetação, mas muito cansativo devido ao clima quente, pelas estradas em construção, tendo-se muitas vezes que esperar que a pista abra para a nossa mão, ou circular por pista com pedras, areia ou asfalto todo esburacado. Mas, depois que passa tudo esse lado é quase esquecido, e fica a lembrança da beleza e diversidade que se encontra.
Interessante, também, é ver aquelas casas, às vezes só uma, no meio daquele deserto, que estão lá e servem de lanchonete para os viajantes. Algumas até têm alguns poucos quartinhos para alugar. Parece mesmo aqueles filmes que passam, ou passavam, sobre histórias no deserto.
Não há muito mais estradas asfaltadas além daquelas em que trafegamos, todas as outras são de terra, indo para algum povoado a alguns quilômetros de distância: chegamos a ver uma indicação de 60 km.
29/06/2011 - Quarta-feira: Loreto - Guerrero Negro
Logo depois do café da manhã partimos para mais um trecho dessa parte mais apressada da viagem. A viagem de Loretto até Santa Rosalia é muito linda, apesar do calor insuportável. Mas são tantas prainhas lindas, tantas enseadas, tanto mar com águas cristalinas, que só seria melhor se tivéssemos mergulhado com toda essa roupa de cordura naquelas águas para nos refrescarmos.
A estrada vai margeando o litoral do Golfo da Califórnia até Santa Rosalia e depois vai para oeste e aí a situação muda, pois é mais serras e inicialmente vai esquentando até não se acreditar que possa esquentar mais do que já está. Porém, na altura do deserto de Vizcaino começa a esfriar e não dá para acreditar que você esteja passando por um deserto durante o dia.
Para se ter uma idéia, saímos de Loreto com a temperatura em torno dos 30 graus, ela subiu até 40 graus (tudo isso temperatura na sombra) no alto da serra e quando chegamos a Guerrero Negro a temperatura era de 20 graus com um vento muito desagradável que empurra a moto para os lados.
As atracões de Guerreiro Negro são ver baleias, mas só em fevereiro, salinas e passeios a ilhas. Não fizemos nenhum deles, pois esse verão mexicano, ou melhor do Pacífico, acima do trópico de Câncer, é muito estranho: ou o calor é insuportável ou a temperatura aliada ao vento chega a uma sensação térmica de uns quinze graus: isso não é temperatura para se passear em praias ou no mar!
30/06/2011 - Quinta-feira: Guerrero Negro - Santa Maria
Saímos da costa do Pacífico com destino a outra cidade também na costa do Pacífico, mas para chegar lá a estrada vai até o meio da península subindo novamente as montanhas. A viagem não foi muito diferente dos dias anteriores, com uma característica que já havíamos percebido mas que ficou mais clara nesse dia: ao contrário do que estamos acostumados, nessa região a temperatura sobe ao invés de baixar quando se sobe às montanhas. É uma coisa de louco: você sai de temperaturas abaixo de vinte graus na costa, sobe a algumas centenas de metros nas montanhas e a temperatura vai parar nos 40 graus! Daí, se você for para o lado do Golfo da Califórnia a temperatura fica na casa dos 30 graus ou mais, se for para o lado do Pacífico ela volta a despencar abaixo de vinte graus.
Aliás já lá em Mazatlán passamos por uma situação inusitada: iniciamos a viagem e de repente comentamos que até que naquele dia a temperatura estava agradável. Olhei o termômetro e ele mostrava 29 graus! E nós estávamos achando isso fresco! Quem diria...
Quando descemos das montanhas em direção a Santa Maria, nosso destino nesse dia, surgiu uma zona agrícola enorme, com muitas fazendas, com plantações diversas, tudo mantido com irrigação artificial. Um verdadeiro oásis naquele deserto.
Ficamos num hotel muito bom e no jantar recebemos como brinde um prato de entrada feito com um tomate, cujas fatias são do tamanho de uma grapefruit, produzido lá mesmo, pelo Rancho Los Pinos, cujos donos também são donos do hotel. Esse rancho é praticamente dono de Santa Maria e estende sua produção também para o Estado da Califórnia nos EUA garantindo emprego para muitos.
O hotel é à beira mar, muito bom mas tínhamos aquele ventinho irritantemente frio, encanado, típico do Pacífico norte, para alegrar o verão na Baja Califórnia. Havia uma família como hóspedes, com vários parentes, que foi à praia com cadeiras de praia, chapéu de sol e ao tentar abrir o guarda sol, com aquele ventinho, mesmo com a ajuda de mais três não conseguiu. Ainda pensamos: nunca devem ter ido a qualquer praia no Pacífico...
01/07/2011 - Sexta-feira: Santa Maria - San Diego
Viagem muito bonita, pois as cidades já vão se americanizando, apresentam mais opulência e riqueza. Muitos condomínios, muitas marinas… coisa de cinema!