Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Guatemala I

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Diários de Bordo
07/06/2011 - Terça-feira: Antigua / Cidade de Guatemala

Esse dia teria sido simplesmente chato se não acontecessem daquelas coisas típicas de uma viagem dessas. Saímos de Antigua para Guatemala para lavar a moto e, claro, nos perdemos duas vezes no caminho. Na primeira vez conseguimos retornar facilmente à via que devíamos seguir, mas na segunda a coisa começou a complicar.

Quando estávamos tentando entender as explicações de um guarda de segurança, vimos uma moto parada pouco adiante, que parecia uma BMW GS, e o piloto acenava para nós. Fomos até lá, explicamos o que procurávamos e ele disse que o acompanhássemos - nos levaria até a Bavaria Motors.

A moto não era uma GS, era uma Guzzi Stelvio, e o Antonio é o representante da Guzzi na Guatemala. Quando paramos na concessionária BMW conversamos um instante, e perguntei sobre o modelo de capacete Nolan que ele estava usando. Ele disse que também representava a Nolan na Guatemala, e decidimos dar uma passada na loja para ver o que ele tinha - o capacete da Beth já estava velhinho e o meu Nolan N103 foi uma enorme decepção - nunca consegui me entender com esse capacete.

Deixamos a moto na Bavaria Motors e fomos a pé até a loja do Antonio, a umas quatro quadras de distância. Chegando lá fomos apresentados ao Nolan N90, sucessor do N103. Ele tinha exatamente dois desses, um "L" e um "S", os tamanhos que precisávamos. Só não gostei da cor do grande: branco! Mas acabamos decidindo comprar os dois capacetes, até porque o preço era bastante atraente: US$ 630,00 pelos dois.

Essa compra acabou se transformando em um longo papo sobre nossos planos de viagem: dois clientes/amigos dele apareceram na loja e todos os três têm bastante experiência nas áreas que pretendíamos percorrer nos próximos dias. Nos deram muitas dicas, nem todas motivadoras: um deles mostrou que havia uma nova passagem de fronteira para o México, acrescentando depois que a estrada para ela atravessava uma área dominada pelo narcotráfico mexicano. Aí o outro lembrou que para aqueles lados havia sido decretado estado de sítio, mas não sabia nem dizer se era na Guatemala ou em Belize.

Mas o balanço da conversa foi altamente positivo, e saímos de lá com dois capacetes e um monte de idéias novos. Não havia muito o que fazer, principalmente depois que os três lá na loja disseram que não devíamos andar por ali com a câmera pendurada no pescoço. Desanima, né? Voltamos para a Bavaria Motors e, claro, a moto só ficou pronta duas horas depois - bem ao estilo brasileiro.

A limpeza não foi muito barata, mas o serviço foi impressionante: trocaram ou pintaram todos os parafusos e porcas enferrujados, e limparam a moto de todas as manchas de terra, a maioria ainda trazida do Brasil. Value a pena!

Pagamos, agradecemos, achamos lugar para dois capacetes novos e montamos na moto para voltar para Antigua - e pegar a mesma chuva do dia anterior... O atraso de uns 90 minutos na entrega da moto tinha sido exatamente o tempo para a 'chuva do dia' chegar. Paramos num Taco Bell para vestir a roupa de chuva e acabamos comendo ali mesmo - novamente uma variação brutal de estilo e qualidade de um dia para o outro, dessa vez com um agravante: havíamos nos proposto a não entrar em nenhum fast food americano antes de chegar aos EUA, afinal lá será difícil escapar completamente deles.

Mas foi bom, porque já estávamos há muito tempo sem comer e também nos livramos da chuva mais forte - só ficou a dorzinha de ver a moto molhada e suja menos de duas horas depois de sair da lavagem. E o dia acabou dessa forma - optamos por não sair mais em Antigua e ficamos trabalhando no hotel.
08/06/2011 - Quarta-feira: Antigua

Nesse dia o tema foi a cidade. Mas antes temos que descrever o café da manhã do hotel, que era, como tudo nele, muito especial. Primeiro, ele era servido na sala de jantar da casa, ao redor de uma mesa para oito pessoas - se o hotel estivesse lotado e todos viessem ao mesmo tempo não sabemos como achariam lugar para todo mundo. Mas mesmo assim diferente e gostoso, até porque incentiva a interação com outros hóspedes: havia um casal de portugueses quando descemos, e ficamos conversando um bom tempo. Interessante o motivo da viagem deles: eles vendem artesanato guatemalteco (entre outros) e vieram conhecer na fonte o material que vendiam, até aquela data fornecido por um parceiro local.

A outra atração do café da manhã era a qualidade dos produtos servidos, não era um buffet enorme, mas tudo fresquinho e selecionado, como se fosse especialmente para a gente. E algo que só vimos ali: eles ofereciam umas seis variedades de pães - e nenhuma delas era pão de forma - um mais delicioso que o outro. E um creme, como uma nata que não chegava a ser requeijão, mas era delicioso!

Saímos e passamos praticamente o dia inteiro passeando pela cidade. Antigua é um misto de Cartagena com Granada: ruas com fachadas bonitas e ao mesmo tempo os pátios que vimos mais em Granada. O centro histórico é bastante espalhado, e dá para andar um bocado para ver tudo. E há um número maior de ruínas que por uma ou outra razão não foram recuperadas.

A ruína mais impressionante é a da catedral: a igreja era originalmente muito grande e devia ser muito bonita, mas depois do último terremoto que a derrubou não foi mais reconstruída - a catedral 'usável' é uma igreja pequena, montada numa pequena parte restaurada, e a maior igreja de Antigua é hoje a Nuestra Señora de la Merced, e não a Catedral.

Aliás, quando se lê a descrição da maioria das construções históricas ou ruínas em Antigua perde-se a conta do número de terremotos e reconstruções - foi gasto muito esforço e dinheiro naquela cidade! E além dos terremotos a cidade também sofreu a ação do Vulcão de Água, que fica pertinho. Ele tem esse nome porque é isso que ele cospe em erupções: água e lama.

E passear por Antigua é um tanto complicado: igrejas e muitos estabelecimentos comerciais fecham das 12h00 às 15h00, de modo que é necessário se organizar um pouco: procurávamos uma óptica, mas quando chegamos nela estava fechada. Aí seguimos para a igreja La Merced... e estava fechada! Só nos restou almoçar para depois retomar as atividades, porque do jeito que ia ficaríamos ziguezagueando pela cidade à procura de objetivos fechados para almoço. Ainda bem que os restaurantes ficam abertos...

Voltamos ao hotel, já com a tradicional chuva da tarde caindo, e saímos de novo lá pelas 19h30 para fazer uma coisa que apreciamos muito e que descobrimos ser possível fazer lá: tomar um café com um pedaço de bolo. Em Antigua há algumas confeitarias e cafés que oferecem esse produto, deixando a impressão de que não só turistas mas também locais apreciam isso.


09/06/2011 - Quinta-feira: Antigua - Rio Dulce

E tivemos que nos despedir do hotel que tanto nos agradou, e mesmo essa despedida foi agradável: eles montaram uma mesa de desjejum para nós uma hora antes do horário normal, permitindo que curtíssemos mais uma vez essa parte do serviço do hotel.

Pusémo-nos a caminho bem mais cedo que em outras ocasiões porque tínhamos receio de demorar muito nessa jornada: textos que lemos na Internet diziam que o trânsito de saída da cidade de Guatemala e os primeiros oitenta quilômetros seriam muito ruins devido ao grande tráfego de caminhões.

Esse problema não enfrentamos: depois de nos perdermos duas vezes dentro da cidade de Guatemala (mas nas duas vezes rapidamente corrigido), caímos na estrada com bem pouco movimento - só no sentido contrário havia muitos caminhões. Mas os problemas foram de outra ordem: nas primeiras horas serra e vilarejos que como sempre baixavam bastante nossa velocidade, graças principalmente aos túmulos. Não sabe o que é? Ora simples, são aquelas coisas que atravessam a estrada para diminuir sua velocidade. Exatamente, lombadas. O nome aliás é adequado, ali jaz o rendimento da jornada.
E no início da tarde veio o calor: havíamos descido dos 1.500 msnm da cidade de Guatemala para praticamente nível do mar, e a temperatura não parava de subir. Chegou a 39 graus à sombra, e nos derrubou completamente.

Quando chegamos a Rio Dulce imaginávamos (e no dia seguinte confirmamos) que seria possível chegar a El Remate no mesmo dia, mas simplesmente não tínhamos mais forças para passar outras três horas na estrada.

Rio Dulce é uma cidade sui-generis: ela se distribui entre as duas margens do rio, e o centro da cidade se resume a uma bagunça inacreditável ao longo da estrada de um lado do rio, por onde passam desde bicicletas até carretas de seis eixos. E tudo isso ladeado de barraquinhas, ambulantes, pedestres e carros que param no meio da rua para comprar alguma coisa. A gente vem vindo e de repente dá com um daqueles caminhões monstruosos parado: ele está esperando o trânsito abrir para continuar, e não buzina, simplesmente espera.

Mas ao lado (ou ao redor) dessa muvuca doida, há uma quantidade enorme de hotéis desde muquifos até o que poderíamos chamar de 3-4 estrelas. Essa oferta de hotéis é explicada pela Laguna Izabal e o próprio rio Dulce, que oferecem muitas opções de esportes náuticos, inclusive duas ou três marinas cheias de barcos, alguns de grande porte. Dali também é possível ir até Livingstone, no litoral caribenho, e que é um dos destinos destacados pelos guias turísticos.

Procurando economizar - afinal era só um pernoite - ficamos num hotel bem simples à beira do 'centro', que nem Internet tinha. E também voltamos ao padrão colombiano: sem água quente - mas também não havia nenhuma necessidade. Comemos num restaurante agradável à beira da lagoa, voltando depois de algum tempo à nossa dieta de peixe e frutos do mar.

Aliás falando da água, desde a Guatemala percebemos que água quente é um ítem que os hotéis anunciam como diferencial, alguns deles enfatizando que ela está disponível 24 horas por dia. Portanto, quem fizer questão disso fique atento!

Conversando com a proprietária do hotel ouvimos dela que o movimento estava fraco porque as pessoas tinham medo do que aconteceu. Perguntamos o que havia acontecido, e ela respondeu de forma um pouco vaga, que tinha acontecido alguma coisa relacionada com o narcotráfico na região de Petén.