Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Guatemala I

I

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10/06/2011 - Sexta-feira: Rio Dulce - El Remate

Viagem muito tranquila: a estrada fica melhor, o número de caminhões diminui e são só 215 quilômetros. Mas chamou a atenção a existência de duas barreiras de controle do exército guatemalteco, num percurso primariamente turístico. Nas duas passamos direto, mas vimos carros sendo meticulosamente revistados.

Às 11h30 já estávamos no hotel La Casa de Don David. É um hotel confortável sem nenhum luxo, mas interessante pelo seu dono: um norte-americano (obviamente chamado David) que vive desde 1974 na Guatemala.

O hotel tem uma grande clientela norte-americana, mas não oferece algumas daquelas coisas que se imagina serem pré-requisito para atender a esse público: os quartos não têm televisão, não tem piscina e o desjejum mais parecido com o americano vem acompanhado dos indefectíveis frijoles!

Há diversas opções turísticas por ali, mas as duas atrações principais são as ruínas maias de Tikal e Yaxhá. Tikal visitaríamos no dia seguinte, e chegamos a nos informar sobre a ida a Yaxhá ainda nesse dia, mas as informações recebidas nos desanimaram: teríamos que ir de moto (ou contratar transporte só para nós), percorrendo uns 30 km, dos quais 11 em terra, sob o calorão de quase 40 graus. Simplesmente não deu coragem.

Ficamos por ali, passeamos um pouco na beira do lago Petén-Itza e trabalhamos no site.

Ah, e claro que perguntamos outra vez que história era essa de problemas com o narcotráfico. Kelsey, a filha do David, explicou que na região a oeste de Flores, a pelo menos oitenta quilômetros de El Remate, no dia 15/05, ocorrera um massacre de trabalhadores rurais na fazenda de um traficante.

Em função desse evento o estado de Petén foi marcado nacionalmente como problemático, o que é no mínimo impreciso: Petén é um estado enorme, compreendendo mais de um terço do país, com áreas muito diferenciadas, e o que aconteceu foi local, e não afetou em nada localidades como El Remate. Entretanto, alguns passeios podem ter sido afetados, pois a floresta, onde os zetas (grupo de narcotráfico ativo) se escondem, se tornou potencialmente perigosa.


11/06/2011 - Sábado: El Remate (Tikal)

Esse dia começou muito cedo: as excursões para o sítio arqueológico de Tikal saem às 5h30, para pegar o mínimo de calor durante a visita. O hotel inclui um lanche no pacote para fazer o papel de café da manhã, que acabou rendendo até o meio do passeio.

A viagem até a entrada do parque dura uns vinte minutos, e acabamos chegando antes do parque abrir - ele abre às 6h00. Da entrada do parque até o sítio propriamente dito são mais uns quinze minutos, e às 6h30 já estávamos saindo com o guia para a visita.

Tikal é muito diferente de Copán: o forte do sítio são as pirâmides, bem mais altas e conservadas. Por outro lado praticamente não há trabalhos de escultura como as estelas e altares de Copán: as estelas de Tikal são completamente lisas.
E as diversas edificações são bem mais espalhadas, com caminhadas entre elas que chegam a 15-20 minutos de duração. Essas caminhadas acabam sendo uma atração em si: há muitos animais no parque, e vimos quatis em grande quantidade (incluindo uma família com uns dez filhotinhos), papagaios, macacos, aranhas, esquilos e cotias.

Também é interessante que boa parte das ruínas não são visíveis: sua existência foi totalmente comprovada por sondagens via satélite, mas parcialmente por falta de recursos, mas também para preservá-las, bem como ao meio ambiente, elas não foram escavadas. Parte da visita acaba sendo um exercício de imaginação.
Também é bom contratar um guia: além das informações interessantes, eles conduzem o passeio de forma que se vê as edificações em ordem crescente de atratividade. Se fizéssemos o circuito sozinhos é bem provável que começássemos pela praça principal, o que tornaria os outros pontos um pouco desinteressantes.

Terminamos o passeio pouco depois do meio-dia, mas acabamos esperando até quase 14h00 para voltar: esse era o horário originalmente marcado para o retorno, e as outras pessoas que estavam conosco na van resolveram almoçar no restaurante do sítio. Ainda bem que encontramos uma boa sombra para nos esconder um pouco do calor.

Quando voltamos para o hotel começamos a nos perguntar quantas ruínas maia ainda tínhamos disposição para visitar. Chichén Itzá já havíamos riscado: seria necessário uma bela volta por Yucatán para ver exclusivamente essa pirâmide, e ainda havia Palenque, no México, previsto. Gostamos de história, mas até que ponto consegue-se apreciar devidamente tantas ruínas? Bem, ainda tínhamos tempo para decidir.


12/06/2011 - Domingo: El Remate - Ladyville (BZ)

Havíamos conversado com algumas pessoas que nos desencorajaram um pouco em relação a Belize. Lendo os guias turísticos também ficou a impressão de que o que esse país tem a oferecer em termos de turismo está nas ilhas, e para chegar lá tem-se que tomar um avião ou lancha rápida. Também ouvimos e confirmamos pela Internet que hotéis são bem mais caros em Belize.

Decidimos em princípio seguir até perto da cidade de Belize, e depois ver como continuar.

Saímos de El Remate um pouco preocupados porque sabíamos que encontraríamos trechos de estrada em terra, mas não conseguíramos obter informações mais claras sobre sua extensão e estado. O David mencionou que chuva poderia piorar esses trechos, e havia chovido muito nas duas noites que passamos em El Remate.

No fim foram três trechos totalizando uns seis quilômetros, o mais longo deles de uns quatro quilômetros, de terra batida com algum cascalho. Razoavelmente fácil, conseguimos passar sem problemas. Na cidade de Melchor de Mencos abastecemos para evitar comprar gasolina em Belize, bem mais cara.

E vamos a mais uma fronteira. A saída da Guatemala foi muito tranquila e rápida, para a migração a Beth nem teve que se apresentar no balcão e na aduana foi só entregar o documento de autorização e o adesivo.

Em Belize mudei de nacionalidade: a partir daqui viajo com o passaporte alemão, basicamente para reduzir custos: com esse passaporte evito tirar vistos para os países a que ainda vamos. Isso começou em Belize: sabíamos que a Beth precisaria comprar o visto na fronteira, e também sabíamos que isso custaria US$ 50,00. Também desconfiávamos que seria necessária uma foto, e tínhamos certeza de ter trazido uma, mas quem disse que a encontramos. A opção era revirar toda a babagem para tentar achá-la ou voltar até Melchor de Mencos para tirar a tal foto.

Optamos pela segunda opção, e fomos atrás de um taxi que nos levasse lá para resolver essa questão. O primeiro 'facilitador' que se apresentou pediu US$ 20,00 e fomos com ele, mas conforme caminhávamos aparecia mais gente oferecendo o mesmo serviço, e o valor mais mencionado era US$ 10,00 - para a corrida de taxi mais fotos.

Dispensamos o cara dos US$ 20,00, que ficou esbravejando com os outros porque o impediam de ganhar seu dinheirinho (acho que esqueceu que entendíamos) e tomamos um taxi que resolveu tranquilamente o problema. Ele deve ter ganho o dia, mas não estávamos em posição de regatear muito. No último instante antes de embarcar nesse taxi ainda apareceu um outro dizendo que faria tudo por US$ 8,00, mas aí decidimos não mudar mais.

Quando estávamos entrando no taxi para voltar à fronteira começou a chover, e tivemos que nos molhar um tanto, porque o taxi era obrigado a nos deixar em território guatemalteco (aliás, observe-se que voltamos à Guatemala para fazer as fotos, mesmo já tendo saído - e provavelmente ninguém percebeu) e tivemos que caminhar na chuva até o posto de Belize.

Ah, quando se chega a Belize é necessário fumigar o veículo. Passamos pelo corredor de pedestres (se eu passasse com a moto pela área de fumigação seria fumigado junto com ela) e tivemos que pagar US$ 4,00 para não sermos fumigados. Entenderam? Nós também não, mas optamos por não criar caso nesse tipo de situação - atravessar essas fronteiras já é suficientemente chato, não precisamos complicar ainda mais por essa quantia.

Completamos os procedimentos sem maiores percalços e seguimos para fazer o seguro da moto - isso é feito depois da aduana, mas é obrigatório - claro que você só terá problemas se for parado pela polícia. Em Belize você compra o seguro por dia, então pudemos comprar somente para dois dias. Mas bem caro: US$ 18,00.

Pronto estávamos em Belize. Pegamos a estrada, sem roupa de chuva, pois o céu mais à frente estava claro. Decisão acertada, pois pouco depois parou de chover. E teríamos derretido com roupa de chuva, pois a temperatura continuava altíssima. Os primeiros cinquenta quilômetros até a entrada de Belmopan são bem chatos, pois há uma infinidade de vilarejos, devidamente acompanhados por reduções de velocidade legais (placa) e físicas (lombadas).

Uma característica única de Belize em relação ao resto da América Central (e Latina) é o sistema inglês de medidas: milhas, galões, temperaturas em graus Farenheit, etc.. É curioso andar num país daquele tamanho, encravado num continente onde se fala espanhol e que também fala espanhol, com esse sistema de medidas. Mas há coisas mais malucas ainda: na Colômbia, Panamá, Honduras, San Salvador e Guatemala o sistema de medidas é métrico... mas gasolina é vendida em galões. Vá se entender...

De Belmopan a Belize a estrada melhora, fica mais deserta, e a viagem rende bem. Decidíramos não dormir em Belize, e nosso destino era a cidade de Ladyville, a uns dez quilômetros de Belize na estrada que vai à fronteira com o México.
Poderíamos ter evitado entrar em Belize, mas nossa opção de rota passava pela cidade. Já estávamos pouco entusiasmados pelo que havíamos lido e ouvido, e o que vimos só piorou as coisas: quando a estrada já se tornou rua da cidade, de repente se vê um cemitério à direita, já bastante estranho porque algumas campas ficam praticamente no que seria o acostamento ou calçada. Mas aí a gente avança e é 'engolido' pelo cemitério: os dois lados da rua e até as ilhas de separação das pistas são cheios de campas. Coisa muito esquisita!
Curiosidade: atravessamos o país Belize de oeste a leste em 1h30! Outro detalhe é o câmbio em Belize: lá um dólar americano vale dois dólares de Belize, seja qual for o sentido da transação. Normalmente os valores de compra e de venda da moeda são diferentes, mas lá o câmbio foi sempre feito a 2:1.

Em Ladyville ficamos andando para cima e para baixo na estrada à procura de um hotel que víramos na Internet e que era o único que custava menos que US$ 60,00. Não achamos o tal hotel e acabamos parando num hotel grande, que acreditávamos que seria mais caro. Ficamos surpresos com o preço (US$ 55,00 com café da manhã - depois descobrimos que era um mini café da manhã) e com a administração do hotel: uma familia chinesa ou coreana que deve ter comprado ou arrendado o hotel, e que estava tocando o negócio com recursos humanos próprios: eram mais ou menos dez pessoas trabalhando em tudo que fosse necessário para tocar o hotel.

Foram extremamente gentis e conseguimos tudo que precisávamos. Só foi divertido que às 21h00, quando ainda estávamos sentados numa mesa do restaurante trabalhando no micro todo mundo sumiu e só ficou o vigia noturno - o único não-membro da família que vimos. Provavelmente foi todo mundo dormir para encarar o dia seguinte. E como parte do 'toque de recolher' o acesso à Internet também foi dormir.

Chegamos a discutir a possibilidade de ir até uma ilha fazer um pouco de snorkeling no dia seguinte - seria fácil, estávamos ao lado do aeroporto - mas não estávamos mesmo motivados para ficar ali e decidimos seguir viagem na manhã seguinte.
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