Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Brasil / Pará

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30-31/03/2011 - Quarta-feira/Quinta-feira: Belém

Outra decisão que tivemos que tomar foi sobre nosso plano de viagem: mudamos pela última vez e decidimos passar mais um dia passeando em Belém, embarcar a moto no navio hoje, e seguir para Marajó. Essa questão do navio é interessante: quando ele chega de Manaus, ele fica alguns dias (pelo menos três) ancorado antes de iniciar a viagem de volta. Durante esse tempo ele é limpo e começa a ser carregado, e você pode deixar a moto lá praticamente quando quiser. No nosso caso ela foi para o navio na quinta-feira de manhã, e o navio partiria na sexta-feira à noite. E quando fomos embarcar a moto já havia gente com a rede montada e dormindo no navio, esperando pela partida.

Poderíamos ter ido de moto para Marajó (é possível e teria sido muito mais interessante) mas primeiro teríamos que ir até Icoarací às 5:30 da manhã - não é longe mas não é um caminho muito fácil. Além disso era um pouco complicado conciliar horários: a balsa para/de Marajó só trafega duas vezes por dia, e o embarque da moto só pode ser feito com maré cheia - só aí o barco fica alinhado com o pontão, que não é flutuante.

Nos preparativos para o embarque da moto e nossa viagem para Marajó descobrimos algo que já temíamos mas cuja magnitude só ficou clara na hora da verdade: livrar-se da moto é mais fácil que dar um destino à roupa de viagem: mesmo tirando a bagagem das duas bolsas das malas laterais da moto e equipamento de viagem lá dentro, ainda tivemos que arrumar duas caixas de papelão para o que sobrou.
Basta ver a lista para imaginar o tamanho do buraco:

Dois capacetes.
Dois pares de botas.
Dois casacos de cordura.
Duas calças de cordura.
Dois coletes Hit-Air.
Duas cintas abdominais.
Ah, e antes de começar o passeio conversamos um pouco com o proprietário da fazenda, Sr. Brito, que mencionou ter vivido dezoito anos em Santos, como engenheiro de reparos navais. E ainda por cima morava perto da mãe da Beth. Mais uma coincidência da série 'mundo pequeno'.


02/04/2011 - Sábado: Soure (Ilha de Marajó) - Belém - Santarém

O dia ficou concentrado no deslocamento: como a van passaria no hotel às 13:00 horas para nos levar para o porto de Camará, decidimos ficar na pousada, que é gostosa e vale a pena ser curtida. Aproveitei para atualizar este site, e Beth aproveitou as redes do terraço.
Além do problema da própria roupa, há outros ítens que têm que ser acondicionados ou transportados na mão por questão de segurança (contra roubo), como a mala de tanque. Essa mala é grande, desajeitada (pelo formato irregular) e relativamente pesada. E o pior é que nosso plano inclui um trecho aéreo, e portanto temos que planejar levando em conta o que dá para levar na mão (número e tamanho de volumes + ítens proibidos) e o número de volumes que podemos despachar.

Bem, organizamos o que dava para organizar e aproveitamos a quarta-feira para passear: O Mangal das Garças é muito bonito e merece uma visita: Belém não é só a cidade das mangueiras, é também a cidade das garças. Mas lá, além de garças, há muitos outros pássaros (principalmente os guarás), borboletas, flores e plantas locais e uma torre de observação. Depois fomos a São José Liberado, uma exposição de minérios e gemas patrocinado por joalherias - interessante mas não imperdível - e a Feliz Lusitânia, o complexo de forte, museu de arte sacra, catedral e museu de arte contemporânea. A Catedral é muito bonita, e o museu de arte sacra é bem rico, e pudemos visitá-lo com toda calma enquanto chovia.

E nosso 'problema teatral' continua: já estivemos duas vezes em Manaus e não conseguimos visitar o Teatro Amazonas: uma vez estava em reforma e da outra vez estava fechado não lembramos por quê. Em Belém fomos visitar o Theatro da Paz e... está fechado para reformas. Vamos ver o que nos espera em Manaus!

Na quinta-feira levamos a moto logo às 9:00 horas para o navio. Depois de desmontar as malas laterais para facilitar a operação ela foi empurrada pelos carregadores até dentro do navio e amarrada a um poste no deck de carga. Quer dizer, esperamos que tenha sido amarrada, pois saímos do navio antes disso.

Ainda visitamos a Igreja de Nazaré, associada ao famoso Cìrio de Nazaré. Igreja lindíssima, que definitivamente vale a pena visitar. De lá passamos pela loja do Alex Reis para devolver sua câmera, fomos pegar outra com o David que compramos e seguimos para o barco com destino a Marajó.

Como é comum ler em guias turísticos, a viagem para Marajó dura aproximadamente três horas (também depende de maré), mas isso é apenas parte da história: chegando ao porto de Camará é necessário tomar um ônibus ou van que leva o viajante até Salvaterra ou Soure (há outros destinos mas esses são os preferenciais). E se o destino é Soure esse veículo ainda tem que atravessar um rio de balsa. Total da viagem: umas quatro horas e meia.

O trecho de barco é basicamente monótono, mas sempre se aproveita alguma coisa bonita. O trecho de van foi feito já ao escurecer, e com ajuda das janelas cobertas de Insulfilm super-escuro que são uma instituição aqui (não sabemos se é só proteção do sol ou também de assaltos) pouco deu para ver.

Chegando à pousada (Canto do Francês, muito agradável) foi o tempo de tomar um banho e jantar, e o dia acabou.

01/04/2011 - Sexta-feira: Soure (Ilha de Marajó)

Dia espetacular! Se tínhamos alguma dúvida sobre visitar Marajó ela se dissipou logo de manhã: contratamos um taxi que nos levou para visitar um curtume cem por cento artesanal, que preserva as técnicas manuais de preparação do couro e confecção das peças e depois a um atelier de arte marajoara onde aprendemos um pouco sobre as esculturas, feitas também preservando técnicas e padrões que respeitam a cultura marajoara.

Dali seguimos para a praia de Barra Velha. Deve ser uma completa muvuca nos fins de semana, mas estava praticamente deserta - tivemos que nos dar por felizes que havia três barracas abertas. Nos instalamos numa delas, tomamos banho de rio, em água doce mas que em outras épocas do ano se torna salobra. A areia da praia é bem batida, porque com as variações da maré a água chega a invadir as barracas, que ficam a uns bons 200 metros da água quando a maré está baixa.

Lugar muito bonito, em que o pessoal das barracas oferece inclusive um cantinho e uma rede caso se deseje pernoitar lá. A tentação não foi pequena!

Voltamos depois de comer um dourado grelhado, e à tarde fomos passear de búfalo na Fazenda São Jerônimo: a parte dos búfalos é pitoresca e desconfortável para quem não tem experiência de montaria, mas entre a ida e a volta há um passeio por uma trilha através dos mangues, que termina numa maravilhosa praia praticamente deserta. Coisa linda!!!

No passeio que fizemos fomos até a trilha de búfalo e retornamos também de búfalo. Há um outro passeio, em que se vai de lancha ('voadeira') e a volta é com os búfalos. Acreditamos que seja mais interessante, pois búfalos em dose dupla são dispensáveis.

Na volta o guia queria atiçar os búfalos para nos livrar da chuva que se aproximava, mas optamos pela água: aqueles mini-tanques de guerra trotando não são nem um pouco confortáveis.

Resumo: chegamos pingando água, e só não ficamos mais preocupados em molhar o taxi que nos levou porque o motorista fez o passeio conosco: estava tão encharcado quanto nós.

Depois de um almoço leve partimos com a van. Continuamos sem ver muita coisa desse trecho pois na balsa não se desce da van. A travessia de barco durou mais de três horas e meia porque estávamos contra a maré vazante.

Imaginamos que dá para ver pelo relato que é melhor ir de carro para Marajó: gastamos R$ 40,00 (ida e volta) com a van, R$ 80,00 de taxi em Soure e sentimos falta de rodas para conhecer um pouco mais da região. Quem puder, vá de moto ou de carro, vale a pena.

Quando chegamos a Belém foi o tempo de ir para a casa do David, juntar as coisas que haviam ficado lá e processar emails que não havíamos lido nem escrito desde quinta-feira. Saímos para jantar com ele e ele nos deixou no aeroporto. Ali vimos de novo como é complicado conciliar viagem de moto com outros tipo de transporte: as duas bolsas internas das malas laterais estavam conosco (usamos o espaço nas malas da moto para capacete, botas e roupa), e queríamos levá-las como bagagem de mão, já que são de tecido (uma espécie de lona revestida internamente para proteger de água) e impossíveis de trancar.

Só que esquecemos completamente do conjunto de talheres que transportamos numa delas! No raio-X fomos barrados e tive que correr de volta para o saguão, empacotar a bolsa naqueles plásticos de aeroporto e despachar. É bem complicado fazer essas conciliações, porque o conteúdo das malas é dirigido pelas necessidades durante a viagem de moto, e aí de repente aparecem considerações muitas vezes conflitantes como esse objetivo.

Por falta de opção nosso vôo partia às 23:40, e até conseguirmos deitar na cama do hotel em Santarém já eram quase 2:00 horas.


03/04/2011 - Domingo: Santarém

Que bom que optamos por passar esse dia em Santarém e que bom que, apesar de todas as informações recebidas previamente, resolvemos insistir mais uma vez e perguntar à recepcionista do hotel se valia a pena ir a Alter do Chão.

Até esta manhã todos diziam que em Alter do Chão estaria tudo embaixo d'água, mas a recepcionista disse que não, a água estava alta mas havia praia. E ela tinha razão. E aquilo é lindo!!!

Realmente havia pouquíssima areia à mostra, praticamente todos os quiosques estavam na água, mas deu para tomar um belo banho e ficar preguiçando à sombra de um quiosque, apreciando a paisagem, o movimento, a cerveja gelada e o pirarucu grelhado que foi nosso almoço.

Um dia divino, em que pelo menos durante aquelas horas esquecemos os entreveros logísticos desse deslocamento para Manaus e simplesmente curtimos!

Na volta passeamos um pouco ao longo da margem do Rio Tapajós, onde há uma variedade imensa de barcos de todos os tipos e tamanhos. Essa orla tem uns quatro portos diferentes, dependendo do destino do navio, e no todo a coisa parece muito mais organizada que em Belém. Vimos inclusive navios muito mais interessantes para se viajar que o nosso.

Para quem não tenha, como nós, a necessidade de chegar a Manaus antes ou junto com a moto, Santarém oferece, além da imperdível Alter do Chão, alternativas muito boas para se chegar a Manaus.

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