13/04/2011 - Quarta-feira: Rorainópolis - Boa Vista
No dia anterior, conversando com o pessoal do ar condicionado, eles nos informaram que tínhamos que nos preparar para mais 140 quilômetros iguais aos de Jundiá a Rorainópolis. Pegamos a estrada e ficamos surpresos e alegres por conseguir andar bastante bem, apesar do número de buracos, por uns 50 quilômetros. Aí começou tudo de novo, e os outros noventa quilômetros, até Caracaraí foram praticamente tão ruins quando os do dia anterior, mas pelo menos secos. Queríamos parar em Caracaraí para descansar um pouco, mas a cidade (?) é tão pequena (ou pelo menos o que se vê da estrada) que quando percebemos já havíamos passado. Paramos na entrada de uma fazenda para tomar um pouco de água e comer uma maçã e tocamos para Boa Vista.
Agora estávamos, desde uns poucos quilômetros antes de Caracaraí, numa estrada perfeita, bem pavimentada e sinalizada. Foram 110 quilômetros tranquilissimos, com boa média de velocidade. Pouco antes de chegar a Boa Vista paramos e ligamos para o Luiz Possebon, que havia enviado um email e dito que nos encontraria no posto da entrada da cidade.
Avisamos que estávamos chegando e paramos no tal posto para esperar por ele. Ainda nem havíamos tirado os casacos quando um cara se aproxima falando inglês conosco e perguntando de onde vínhamos. E também antes que respondessemos viu a placa da moto e percebeu o engano: era Cezar Soto Riva, outro motociclista hospitaleiro que ajuda ao pessoal que passa por ali vindo ou indo para a Venezuela.
Pouco depois chegou o Possebon. Conversamos um pouco e o Possebon nos guiou até o hotel que havíamos reservado enquanto esperávamos no posto. Nos instalamos e fomos procurar um supermercado e lugar para almoçar. A churrascaria que a recepcionista nos indicou estava fechada e acabamos comendo um salgado numa padaria depois de fazer as compras do supermercado.
Voltamos para o hotel e ligamos para o Possebon perguntando se ele podia nos ajudar com facilidades para lavar nossas roupas, particularmente as calças de cordura, ainda bem sujas de barro. Ele simplesmente nos pegou no hotel, levou para sua casa, e disponibilizou a máquina de lavar para resolver nosso problema.
Ficamos o resto da tarde e o início da noite lá, com direito a um lanche que eliminou nossa necessidade de jantar. Como é fácil resolver problemas com gente tão hospitaleira!
14/04/2011 - Quinta-feira: Boa Vista
O dia começou com o Cezar nos ajudando a obter um documento para facilitar a entrada na Venezuela: nesse país é necessário ter uma Licença de Trânsito para o veículo, e por um acordo diplomático o Estado de Roraima pode emitir esse documento.
Esse documento também pode ser feito em Paracaíma, mas Boa Vista é conveniente porque quase certamente vai se pernoitar lá mesmo. Basta ir ao Detran e obter a Licença de Trânsito na Venezuela.
Textos na Internet indicam a necessidade de um nada-consta do Detran para o veículo: essa licença é tudo que é necessário. Aliás ela é bem estranha: apesar de ser um documento para uso em território venezuelano, está todo em português - nem uma palavrinha em castelhano. E além disso declara que o veículo está registrado no Departamento de Trânsito do Estado de Roraima! Como???? Bem, mas funciona.
Ah, mas não é tão simples. Depois de obter esse documento é necessário reconhecer a firma do signatário do mesmo. Mais uma vez contamos com a ajuda do Cezar: ele simplesmente ficou com o documento, providenciou o reconhecimento da firma e um par de cópias autenticadas e nos levou tudo no hotel. Dá até vergonha usar esse pessoal desse jeito!
Por falar em cópias, quem vai fazer essa viagem trate de levar, de casa ou de Boa Vista, cópias de todos os documentos (veículo, passaportes, habilitação e a própria Licença de Trânsito) porque se não as tiver vai ter que se enfiar pelas ruazinhas de Paracaíma para fazê-las: não existe esse serviço na fronteira.
Depois disso voltamos para o hotel e resolvemos o outro problema: a questão do chip do celular. Estávamos sob certa tensão, pois até antes de sairmos com o Cezar para o Detran, a única informação que a página de rastreamento dos correios mostrava é que a encomenda estava em trânsito para Rio Branco/AC. Não fazemos a menor idéia do por que desse caminho estranho, mas assim foi.
Ao voltar do Detran a coisa estava melhor: a encomenda estava em Boa Vista, e saíra para ser entregue. Ligamos para o Francisco (segundo ele mesmo conhecido como Chico da Anatel) e pouco depois ele retornou informando que a encomenda chegara. E, claro, passou no hotel para entregar o Sedex. Estamos ficando preguiçosos com todas essas facilidades.
Passamos o resto do dia trabalhando na atualização do álbum de fotos do site, e à noite saímos com Possebon, esposa e Cezar para jantar e curtir mais algumas horas juntos.
Nos despedimos, mais uma vez cheios de gratidão pela ajuda recebida dos dois.
15/04/2011 - Sexta-feira: Boa Vista - Paracaíma - Santa Elena de Uiarén
Sem nenhuma pressa saímos de Boa Vista às 10h, para percorrer os 230 quilômetros até a fronteira, em Paracaíma. Isso foi um erro, pois ignoramos um detalhezinho: a aduana fecha para almoço! Portanto, ou chega-se lá até umas 11h30 ou então é melhor esperar e chegar lá somente às 15h - graças a uma invenção do irmãozinho Chaves, a Venezuela está meia-hora atrás do horário de Roraima, que já é uma hora atrás de Brasília. E os venezuelanos só voltam do almoço às 14h30...
Felizmente achamos, totalmente por acaso, a loja de bijuterias do casal que viajou conosco no navio Santarém - Manaus (Socorro e Sérgio), e filamos um papo e um almoço com eles.
Às 15h fomos para a aduana e aí é necessário fazer uma coisa que não fazíamos desde os tempos da ditadura: carimbar em nossos passaportes nossa saída do Brasil na Polícia Federal - outra exigência do Chaves.
Em seguida passa-se à imigração venezuelana, onde o passaporte é carimbado após uma bela espera na fila: é o preço que pagamos por ter chegado em Paracaíma às 12h10, ignorantes do detalhe da pausa de almoço.
Depois da imigração vem a aduana, onde surge mais um detalhe: se você tiver extensão de perímetro do seu seguro brasileiro, fica tudo mais fácil. Nós não tínhamos, portanto tivemos que ir até Santa Elena de Uiarén (uns 20 km.), contratar um seguro na Mapfre de lá (aproximadamente R$ 50) e voltar à fronteira para completar a legalização da moto. Tivemos azar de ficar nas mãos de um funcionário lentíssimo, que levou uma boa meia hora para produzir o papel necessário para transitar. Pois é, esse papel não é aquela licença que tiramos em Boa Vista - essa é recolhida na aduana e um outro documento é emitido com a autorização de trânsito. Tudo muito estranho e complicado.
Resumo: graças à história da pausa para almoço e do seguro, levamos das 10:00 às 18:00 para percorrer 230 quilômetros e entrar na Venezuela. Só nos restava ir para o hotel (que providenciamos já na ida para compra do seguro) e encerrar o dia. No fim o que salvou o dia foi um gostoso jantar num restaurante perto do hotel.