Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Colômbia / Magdalena

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08/05/2011 - Domingo: Santa Marta

Já estamos em Cartagena, mas não conseguimos mexer nesta página antes de hoje, pois estávamos reestruturando o álbum de fotos (e ainda não terminamos) e isso tomou muito tempo. Álém disso voltávamos um pouco mais tarde e mais cansados que em outras cidades.

Bem, nosso primeiro dia em Santa Marta foi de exploração do básico, acompanhada de muita preguiça: em nossa permanência lá nunca tomamos café da manhã antes das nove horas.

Para lembrar, essa foi a primeira cidade da América espanhola, fundada em 1525 por Don Rodrigo de Bastidas. Ela não estava nem de longe em nosso planejamento, mas quando decidimos entrar na Colômbia pelo norte - o plano original era entrar por Cúcuta - e com o tempo de espera pelo barco para o Panamá, ela passou a fazer parte do roteiro. E para reforçar, um motociclista que encontramos num bar em Boa Vista insistiu duas vezes que não podíamos perder Santa Marta. Ele tinha razão.
Passeamos pelo centro histórico - nosso hotel ficava dentro dessa área - que é muito bonito apesar de ter diversos edífícios ainda pedindo uma recuperação mais completa. Vale a pena perambular pelas ruas, algumas muito estreitas, simplesmente olhando o que há para ser visto e tirando fotos. Foi particularmente agradável por ser domingo, tudo muito calmo.

Uma das piadas que corre entre os samarios (assim são chamados os nativos da cidade) é que há somente três estátuas na cidade: as de Rodrigo de Bastidas e de Simón Bolívar, frente a frente na plaza Bolívar e a de Valderrama, o jogador de futebol, que nasceu na cidade, em frente ao estádio. Claro que há outras estátuas, mas o culto a Valderrama é tão grande que equiparam sua estátua com as outras duas. Aliás, aqui ele é chamado de "el Pibe", como Maradona na Argentina.
Ao longo do calçadão da praia há também diversas bonitas esculturas mostrando indígenas Tairona, a mais importante etnia pré-colombiana da região.

Lá pelas 12h30 simplesmente jogamos a toalha e voltamos para o hotel: com temperaturas na ordem dos 34-35° à sombra e umidade muito alta não dava para continuar na rua. Aliás, bancos e muito comércio fecham por duas a três horas nesse período.

À tarde pegamos uuma buseta (meio termo entre van e ônibus) e fomos para El Rodadero, uma parte de Santa Marta onde se concentram os edifícios residenciais de alto padrão e a praia mais popular - todo mundo parece ir para lá, e como era domingo estava lotada.

Novamente o comentário que fizemos antes: praias bonitas, construções imponentes, mas nada que não tenhamos visto no Brasil. Almoçamos por lá, e voltamos para o hotel, novamente de condução - curiosamente estamos nos sentindo muito seguros na Colômbia.

Falando de almoço, conversando um dia concluímos que desde Belém devemos ter comido algo diferente de peixe ou frutos do mar no máximo dez vezes. A maioria absoluta de nossas refeições é 'marinha'. Gostamos muito desse tipo de comida, e com a variedade e preços atraentes (para brasileiros), acabamos nos concentrando nessa especialidade. E pelo menos até chegar ao Panamá devemos continuar nessa dieta!


09/05/2011 - Segunda-feira: Santa Marta

Esse dia foi estritamente cultural. De manhã, depois de uma passagem pelo centro de informações turísticas para nos orientarmos, visitamos o Museo del Oro e o Museu Etnográfico, ambos muito pequenos mas muito bons e informativos.

O curioso foi a chegada ao Museo Etnográfico: já passava do meio-dia, mas haviam nos informado que ele ficava aberto o dia inteiro. Ao chegar lá o portão estava fechado com cadeado e um guarda que havíamos visto de longe havia desaparecido. Quando já estávamos desistindo o guarda voltou e a nossa pergunta sobre quando o museu abriria respondeu que estava aberto! Abriu o cadeado e entramos para fazer a visita. Bem, abierto pero no mucho.

De lá tomamos um taxi e fomos visitar a Quinta de San Pedro Alejandrino. O nome é uma homenagem a um mártir espanhol, e o que distingue essa enorme propriedade de 22 hectares no meio da cidade é que lá morreu Simón Bolívar.

Ela foi transformada num conjunto de museu e monumento a Bolívar e jardim botânico. No meio de árvores centenárias absolutamente espetaculares e jardins muito bonitos há as antigas edificações da quinta, incluindo o quarto onde morreu Bolívar e um enorme panteão em sua honra, em torno do qual foi construído um museu de arte contemporânea.
Um detalhe interessante da visita: quando se entra é oferecido o acompanhamento de um guia, que são alunas de uma escola próxima que fazem esse trabalho. Fica a critério do visitante dar uma gorjeta se achar adequado. O que primeiro chama atenção é o uniforme: no dia seguinte observamos que é comum por aqui, vestidos na maioria das vezes com motivos em xadrez e meias três quartos. Extremamente conservador.

A menina obviamente tinha seu script decorado, mas estava bem preparada para responder a perguntas e conseguia retomar a meada após uma interrupção sem problemas. Nos ajudou a entender muita coisa e mereceu sua gorjeta!
De volta ao hotel fomos jantar num restaurante da praia indicado pelo recepcionista - Ben Josep's. O nome é estranho para o lugar, e corresponde ao que encontramos: comida muito boa, mas das 6-8 mesas ocupadas somente em duas se falava castelhano. Um completo reduto de turistas estrangeiros - não é bem o que procuramos.


10/05/2011 - Terça-feira: Santa Marta

E nosso último dia foi voltado à natureza e a atividades físicas. A uns 30 quilômetros de Santa Marta, em direção a Riohacha, há um grande parque chamado Parque Natural Tairona. É basicamente uma grande reserva florestal, com inúmeras praias separadas por pequenos morros e formações rochosas. Essas praias são muito bonitas e desertas, mas a maioria é considerada imprópria para banhos: são o que chamamos, pelo menos em São Paulo, de 'praias de tombo': mar revolto e poucos metros dentro da água já se tem água pelo peito. Muito perigosas.

Dentro de nosso esquema preguiçoso, o passeio rendeu muito pouco, pois só pudemos caminhar uma hora antes de ter que voltar. Mas por outro lado essa uma hora foi o nosso limite: a trilha que vai até a praia de Arrecifes é designada como 'fácil' no seu início. O começo é de passarelas de madeira alternadas com alguns pequenos trechos de trilha de verdade, mas depois de uns dez minutos de caminhada começam subidas e descidas dos diversos morros (baixos, mas mesmo assim um pouco trabalhosos) que separam uma praia da outra.
Para jovens ou caminhantes treinados essa trilha pode ser fácil, mas para quem não é fisicamente muito ativo a coisa já está mais para média. E isso aliado ao calor super-abafado da floresta, nos pôs suando em bicas depois de meia hora. E para tornar o passeio ainda mais emocionante, toda vez que nos apoiávamos numa árvore para facilitar uma subida ou descida tínhamos primeiro que prestar atenção para não esmagar uma das muitas 'milopéias' (não dá para chamar aquilo de centopéia) que havia por toda parte.

Acabamos não chegando a Arrecifes por uns dez minutos, mas valeu a pena mesmo assim. O ideal para quem quer curtir esse parque é chegar cedo (abre às 8h00) para ter tempo de fazer as caminhadas (50-60 minutos até Arrecifes e mais outro tanto até Cabo San Juan del Guía). Há uma terceira praia, para nudistas, mais adiante.
Quem estiver a fim de gastar um pouco de dinheiro pode associar esse dia de caminhadas com um descanso no hotel em Cañaveral: as Ecohabs. São construções no estilo das choupanas dos Taironas, mas dotadas de todo o conforto e serviços. O único 'probleminha' é a diária de R$ 560,00 só com o café da manhã. Tudo bem que inclui a entrada do parque, que é de R$ 80 para duas pessoas mais veículo, mas mesmo assim é meio salgado!

Voltamos totalmente pregados para Santa Marta. Aliás, a necessidade de retornar depois de uma hora de caminhada era o fato de que não queríamos chegar ao hotel depois das 18h00, para evitar problemas com o tal colete. Apesar de termos vistos muitos motociclistas rodando à noite sem o colete, não queríamos arriscar.

Quando estávamos entrando na cidade, entretanto, fomos surpreendidos por outra informação que não tínhamos: esse dia era dia sin moto em Santa Marta! Perguntando e investigando na Internet, descobrimos que nos dias 10 e 25 de cada mês motos não podem transitar nessa cidade. Não temos a mínima idéia do porque desses dois dias, uma hipótese que nos ocorreu é que sejam dias de pagamento e seja uma forma de conter assaltos.
Aliás, além dessa restrição há outra só para o centro histórico: ali há uma sistema de rodízio bem complicadinho para carros, motos e até taxis. E além disso é proibido transitar com garupa no centro histórico - dessa restrição estávamos isentos segundo o policial que nos explicou isso.

E na esquina da rua onde ficava o hotel a polícia fazia uma verdadeira festa com o controle de motos: somente nos horários em que estávamos lá vimos um caminhão por dia, desses de resgate, cheio de motos confiscadas por problemas de documentação ou qualquer outra irregularidade.
Mas conseguimos chegar ao hotel sem sermos parados pela polícia e encerramos o dia voltando ao Donde Chucho, o restaurante onde comemos no dia da chegada. Realmente um excelente restaurante, que vale a pena ser frequentado não só pela cozinha como pela localização muito agradável.

Com isso terminou nossa estadia nessa cidade muito agradável e que sem dúvida vale a pena ser visitada. Ela só ficou nos devendo a visão da Sierra Nevada: o maciço mais alto do mundo a essa distância da costa passou o tempo todo envolto em nuvens.

11/05/2011 - Quarta-feira: Santa Marta - Cartagena

Com a história do dia sin moto em Santa Marta, lembramos do livro do Lúcio Siqueira (Da Quinta para a Nove) e fomos ver como é essa questão em Cartagena. Bem, lá (ou aqui, já que já chegamos) a coisa é muito mais complicada (vejam http://www.vivetumoto.com/foros/mensaje-6554-1.html):

Nos dias ímpares, é proibido o tráfego de motos com final de placa... PAR!
Nos dias pares, é proibido o tráfego de motos com final de placa... ÍMPAR!
Na segunda e na última sexta-feira do mês é totalmente proibido o tráfego de motos.
Depois das 23h00 é proibido o trânsito de motos.

E também é proibido transitar com motos na cidade velha.

Tivemos sorte, pois hoje nossa moto, final 9, pode entrar na cidade. Em compensação ficará no estacionamento amanhã e depois (é a segunda sexta-feira de maio). Mais tarde, conversando com outras pessoas, elas disseram que turistas estrangeiros raramente são incomodados pela polícia, mas não havia razão para arriscar.

A viagem de Santa Marta a Cartagena foi de longe a melhor desde que saímos do Brasil: viemos pela estrada costeira, pavimentação perfeita e pouco trânsito (e também pouquíssimos postos de controle).

Não sabemos se podemos extrapolar nossa experiência para outras áreas da Cplômbia, mas a qualidade da pavimentação e da sinalização é muito boa. Só a travessia de Barranquilla foi um caos fantástico: justamente o caminho para atravessar a cidade em direção a Cartagena é uma sequencia de obras na pista, resultando em um portentoso congestionamento onde se juntam os taxis e ônibus locais com as jamantas que estão atravessando a cidade.

Graças principalmente a essa travessia, mas também a algumas paradas e desvios exploratórios que fizemos, acabamos levando mais de quatro horas para rodar os 234 quilômetros de hotel a hotel. Mas a entrada em Cartagena foi muito fácil, pois fomos entrando na cidade bordejando a costa, e quando achávamos que era hora de perguntar onde ficava o hotel estávamos a umas dez quadras dele.

E para completar nosso passeio por esses dois países achamos um hotel razoavelmente melhorque os anteriores: tem até chuveiro elétrico! Vamos ver como é o café da manhã - até agora está tudo bom! Claro que ele é bem mais caro, ainda mais numa cidade como Cartagena, mas eles têm agora uma promoção de uma noite grátis para mais de três noites. Como devemos ficar aqui quatro noites, os R$ 160 de diária se transformam em R$ 120 - pagamos três e levamos quatro.

Depois de instalados fomos dar um primeiro passeio pela cidade velha. Nâo sei se conseguiremos descrever, seja com palavras ou com fotos, a beleza dessa cidade. É de longe a coisa mais linda (estamos falando de centros de cidade antigos, ok!) que já vimos no continente americano e uma das mais lindas mesmo comparada com cidades européias. É de arrepiar, dá para derramar lágrimas de emoção por ver isso aqui.

É claro que gosto é gosto, mas nós nos consideramos privilegiados por termos tido a oportunidade de conhecer essa coisa maravilhosa. E ainda bem que conhecemos Santa Marta primeiro: depois de ver Cartagena o padrão de comparação sobe muito!
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