Pela descrição e cometendo o erro usual de interpretá-la pelo que conhecemos, achamos que seria uma espécie de vitamina - a ensalada era de frutas. O que recebemos foi um líquido que poderia ser água com açúcar (ou algum suco muito ralo de fruta) com pedaços de frutas boiando, como um ponche. Vivendo e aprendendo...
De sobremesa comemos e bebemos uma combinação completamente maluca para nossos padrões: mandioca cozina e depois empanada (meio como empanado chinês) coberta de mel e banana cozida com calda também de mel. Estranho mas muito saboroso. E para acompanhar um atol de piña: uma bebida quente, grossa (quase uma sopa) à base de abacaxi, mas que devia ter mais alguma coisa que não conseguimos nem imaginar o que seja. Mas, mais uma vez, agradável surpresa!
Falando nisso esquecemos lá atrás de contar sobre uma bebida estranha a que fomos apresentados na Colômbia: agua de panela. Não tentem fazer imagens precipitadas: panela não é panela, é rapadura ou algo muito parecido. E a tal agua de panela é rapadura dissolvida em água, basicamente água com açúcar. Mas devido à cor da rapadura, o aspecto dela não tem nada de apetitoso (o líquido fica bem marron) e o gosto também não entusiasma muito. Mas o pessoal lá toma muito!
A cidade não é suficientemente grande para oferecer qualquer coisa em termos de passeio, de modo que voltamos para a pousada e trabalhamos um pouco no site. Ainda demos uma saída à noite para esticar as pernas e ver como era o movimento, mas por total falta do mesmo andamos umas três quadras e voltamos para a pousada, dando o dia por encerrado.
06/06/2011 - Segunda-feira: Juayúa - Cidade de Guatemala (GT)
Saímos sem pressa de Juayúa, simplesmente rodando pela Ruta de las Flores rumo à fronteira com a Guatemala. Ficou novamente evidente que é uma estrada muito bonita, mas que nessa época do ano quase não tem flores. Um aspecto que dificulta um pouco apreciar essas regiões para nós brasileiros, é que quando se fala em cidades de montanha, com flores e coisas assim imaginamos Campos do Jordão ou Gramado e entorno. Esqueçam! Mesmo as cidades mais turísticas que visitamos até agora são no máximo parecidas com os bairros pobres dessas cidades brasileiras.
São apenas 44 quilômetros de Juayúa à fronteira, e em uma hora estávamos lá. Essa fronteira apresentou uma novidade nessa viagem: foi a primeira fronteira molhada que passamos. O rio Paz, não muito largo, é o divisor entre os dois países.
Esse tipo de fronteira tem suas vantagens: não há nenhuma dúvida de onde termina um país, e portanto em que ponto todos os trâmites têm que estar finalizados - as outras fronteiras normalmente são uma bagunça em que só depois de todo o processo sabemos que entramos no outro país.
O processamento de saída de El Salvador foi tranquilo, apenas um pouco burocrático: quando se chega à fronteira um policial verifica a documentação (principalmente a autorização da moto), leva uns bons minutos olhando os papéis e ainda confabulando com alguém pelo rádio, para dizer que está tudo em ordem e que podemos começar os trâmites.
Terminada essa etapa passamos a cancela de um lado da ponte e atravessamos para a Guatemala. Como dissemos, foi prático sabermos com certeza que saíramos de San Salvador e entráramos na Guatemala. Imigração (passaportes) sem problemas, inclusive com pouquíssima gente e em seguida fui para a aduana.
Primeira pergunta da funcionária: onde está sua autorização de trânsito de El Salvador?
- Ficou lá. uaí!
- Mas você não tem nenhum documento de lá?
- Não!
Confabulação interna e pediram os documentos usuais: passaporte, título de propriedade e licenciamento da moto e habilitação. Da mesma maneira que em El Salvador, fizeram as cópias necessárias 'lá dentro'. De forma diferente de El Salvador, tivemos que pagar por essas cópias... Aliás, essa parte foi hilária: bem na frente dos olhos, no guichê onde fizemos os trâmites, havia um aviso informando que esses trâmites não têm custo. E logo ao lado há uma tabela de preços dos mesmos.
Optamos por não chamar a atenção deles para o paradoxo para evitar problemas! Bem, pagamos os Q 160,00 (primeiro país que não aceita dólares) e recebemos os documentos de importação temporária da moto: um adesivo na bolha e um papel - parece que o realmente importante é o adesivo.
Detalhe: tínhamos que ter quetzales para pagar as taxas, mas não há banco nem agência de câmbio para obtê-los. Por indicação do próprio funcionário da aduana trocamos dólares num cambista - isso é o que não falta em todas as fronteiras - para resolver essa questão.
Foi a passagem de fronteira mais rápida até agora: uma hora. E tocamos para Antigua - na realidade para a cidade de Guatemala e depois Antigua. É um trecho curto, como de costume feito longo pelas curvas e problemas de pavimentação da estrada. Em Cuilapa demos uma parada para descansar e nos orientarmos, e como resposta a nossas perguntas um local nos deu de presente seu mapa - ele está meio velhinho e estava na hora de ser reposto, mas foi um maravilhoso presente mesmo assim. Agora sabíamos onde estávamos e para onde ir.
Seguimos em frente, a estrada logo melhorou muito (proximidade de capital faz essas coisas) e entramos em Guatemala. Nunca pensamos que faríamos uma revisão de nossos comentários sobre a poluição gerada pelos carros venezuelanos, mas fizemos: em Guatemala a coisa consegue ser pior. Talvez porque haja mais veículos a diesel, que parecem fazer da ruptura do lacre do injetor uma questão de honra. As nuvens de fumaça preta que as picapes, vans e ônibus de todos os tamanhos produzem são assustadoras.
Fomos avançando, perguntando uma ou duas vezes pelo caminho (fácil, a travessia é quase em linha reta) quando vimos a autorizada BMW à nossa direita. Desde o Panamá estávamos cismados e um pouco preocupados: a lavagem que haviam feito lá fora muito superficial, e havia um ou dois pontos de ferrugem em parafusos da moto. Demos uma parada, conversamos um pouco e agendamos uma lavagem mais profunda (aliás eles a chamam de llavado profundo) para o dia seguinte.