Beth & Heinz Klein

(Moto)viagens

Diário de bordo -  Américas 2011: Canadá

Alberta / Saskatchewan / Manitoba

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21/08/2011 - Domingo: Calgary - Oyen

Achamos que viajar direto até Regina seria longo demais (na realidade não teria sido) e decidimos fazer uma parada no meio. E como dessa maneira o dia ficaria leve, procuramos encontrar alguma coisa para ver no caminho. A escolha recaiu sobre os Drumheller Badlands - o nome já é estranho e desperta curiosidade: por que alguém chamaria sua região de 'terras ruins'?


Partimos com céu azul maravilhoso, super limpo e temperatura de 21ºC - uma bela mudança em relação a dois dias antes. O cenário consolidou o que começáramos a ver entre Banff e Calgary: grandes planícies agrícolas, com pastos e plantação de grãos: trigo, milho e canola. Muitos fardos de feno já enrolados, e muitas vezes já empilhados. Nem um único morrinho, planura total, num contraste violento com o relevo que vínhamos vendo desde o Alasca.

E depois de uns 100 km há uma descida e entra-se num vale com formações rochosas muito diferentes do resto.

A cidade de Drumheller fica no meio desse vale, e o tema da cidade é a respeito de dinossauros. Em cada esquina há um modelo de uma espécime e no Centro de Visitantes há duas estátuas de dinossauros enormes, uma delas um Tiranosauro Rex, de 26m de altura. Pode-se subir por uma escada dentro dele para olhar a redondeza.

A expressão Badlands aparentemente vem do fato de que toda a área desse vale foi no início do século XX uma sequência de minas de extração de carvão, que depois de exauridas deixaram um vale totalmente inaproveitável para a agricultura, que é a base da economia regional.


Saindo da cidade fomos ver os Hoodoos, curiosas formações rochosas formadas por erosão eólica. É um conjunto muito interessante, que desafia a imaginação pelas formas inusitadas.

Dali fomos para uma mina de carvão que hoje é museu. Só vimos a mina por fora, pois a visitação guiada seria ou uma de 1h 45m, ou teríamos que esperar uma hora para fazer uma visitação de 45m. Não queríamos ficar tanto tempo por lá, pois teríamos ainda 192km pela frente.

Demos uma olhada rápida numa ponte suspensa que era usada pelos mineiros para atravessarem o Red Deer River até as minas de carvão e depois fomos almoçar em Wayne. Wayne em si é um vilarejo sem interesse, mas lá se instalou um boteco chamado Last Chance Saloon, com decoração antiga - não chega a ser um saloon do velho oeste - que se tornou ponto de encontro de motociclistas. Para o pessoal de São Paulo, pode-se dizer que é um Sapezeiro mais bem arranjado.

Obviamente nossa moto chamou muita atenção no meio daquele mar de motos custom.

Conversamos um pouco com alguns dos motoclistas, comemos um cheeseburger digno do nome - nada a ver com McDonalds da vida - e seguimos para Oyen, onde pretendíamos pernoitar.

Foram mais 200 km. de fazendas e mais fazendas, um cenário inacreditavelmente uniforme. A única diversão era ficar procurando as bombas de petróleo: o subsolo de Alberta é muito rico nesse mineral, e os fazendeiros 'completam a renda' com extração de petróleo. De vez em quando se vê uma bomba perdida no meio da plantação puxando o petróleo.


22/08/2011 - Segunda-feira: Oyen - Regina (SK)

Gente, há quatro dias estávamos reclamando que estava muito frio!!! Hoje saímos de Oyen já com 25ºC e chegamos a Regina com 35ºC! Mas pelo menos sopra um ventinho ainda agradável, não é aquele bafo da Califórnia!


E foram novamente 486 km de invariável planura agrícola: feno, trigo, cevada, canola, até milho e bastante gado. Muito bonito, mas irremediavelmente monótono! E também continuam as bombas de extração de petróleo espalhadas pelos campos de cultura. Não é novidade absoluta - em Sergipe também se vê isso em alguns lugares, mas a quantidade aqui é bem maior.

A estrada é boa, pista única com uma faixa em cada sentido - e terceira faixa de vez em quando - e é fácil manter velocidade absolutamente constante de 108-110 km/h - o limite legal é 100 km/h, mas todo mundo anda a 110 km/h.


Às margens da estrada, quando os vilarejos aparecem, vê-se muitas revendedoras de carros - leia-se picapes - de maquinarias agrícolas e de equipamento de extração de petróleo. Tudo bem de acordo com a necessidade da região.


23/08/2011 - Terça-feira: Regina

Regina não é uma cidade que se possa chamar de turística. Chegamos a pensar em visitar um museu, mas acabamos passeando tranquilamente pelo centro da cidade.

Ventava tanto que o boné não ficava na cabeça - a gente deve se acostumar, mas para quem está de passagem chega a ser muito irritante. No almoço perguntamos à garçonete se era sempre assim e ela disse que hoje estava um pouco além do normal, mas que vento é normal por aqui. E no inverno? Ela disse que continua a ventar, e que temperaturas de -26ºC podem ser transformadas numa sensação térmica de -38ºC. Ai, ai. ai...

Andamos um pouco pelo centro e acabamos indo parar no Parque Victoria. A primeira sensação é de paz: pessoal passeando, sentado nos bancos, outros cruzando o parque rapidamente, provavelmente cuidando de afazeres profissionais.

Um contraste interessante é que procuramos um banco abrigado na sombra - com vento e tudo o sol queima de doer - enquanto que os locais vão se sentar diretamente no sol para pegar um pouco de radiação. Ficamos discutindo sobre isso, e concluímos que nós temos um problema muito diferente deles: o efeito do sol para doenças de pele, particularmente melanoma, é cumulativo (o sol de hoje soma-se ao de ontem e de anteontem), e por isso temos que tomar muito cuidado, pois tomamos muito sol durante muitos dias do ano. O pessoal aqui não tem esse problema: durante uma vida inteira eles provavelmente tomarão menos sol que nós em um par de anos.

Ficamos sentados num banco apreciando a natureza e comparando a praça com as nossas praças em São Paulo. Onde ficaríamos sentados num banco, num local com relativo movimento, com a máquina fotográfica, dinheiro, podendo até tirar uma sonequinha e ninguém para perturbar?



Quando estávamos para ir embora começou uma arrumação de cenários e jovens, crianças, adultos vestidos com roupas diferentes. Ficamos curiosos e esperamos para ver o que iria acontecer. Era uma apresentação muito criativa: cada pessoa ou grupo escolheu uma cena (pintura, gravura de livro, etc.) e montou essa cena ao vivo no parque. Ao lado de cada um havia um cavalete com a fotografia da cena em questão para que se pudesse comparar e avaliar quão fidedigna era a representação. E quem quisesse poderia votar em qual achasse melhor apresentado.

Enquanto esperávamos para ver o que daria o espetáculo acima achamos um restaurante na praça do parque para almoçar. Com nossos horários estranhos de almojantar é muito comum sermos os únicos no restaurante.

Nesse caso aconteceu algo engraçado: entramos numa espécie de deck que faz a frente do restaurante, e lá havia algumas pessoas sentadas bebendo - pensamos que aquela parte fosse um bar. Vimos uma porta aberta ao lado e entramos por ela. Sem dúvida era o salão do restaurante, mas não víamos ninguém para nos atender. Só depois de irmos até o fundo do salão fomos vistos pelo proprietário, que estava sentado numa área privada do restaurante e chamou a garçonete para nos servir.

Ainda bem que aqui existe o costume de se ser conduzido à mesa por uma recepcionista, que era o que estávamos procurando. No Brasil teríamos sentado a uma mesa e provavelmente esperado até nos irritarmos e irmos embora...

Aproveitando, um comentário sobre o procedimento dos atendentes em restaurantes. Depois de você pedir a refeição e ser servido, o atendente vem e pergunta se está tudo certo e se você deseja mais alguma coisa - isso enquanto você ainda está comendo! Caso você diga que não, minutos depois ele/a já traz a conta, dizendo que pode-se ficar a vontade, o tempo que quiser e que depois traz a máquina do cartão.

Já concluímos que esse procedimento é uma forma de diferenciar restaurantes 'comuns' de outros um pouco mais refinados: só nesses últimos eles esperam que se termine de comer para vir perguntar se se deseja uma sobremesa ou café e só depois da negativa trazem a conta - sem que tenhamos pedido; essa parte parece ser imutável.


24/08/2011 - Quarta-feira: Regina - Winnipeg (MB)

Dentro do que nos interessava e que dava para fazer Saskatchewan não oferece muito. Depois do dia anterior em Regina decidimos tocar para Winnipeg, em Manitoba.

Essa província é uma das mais desenvolvidas do Canadá e fica no centro do país, sendo corredor de passagem comercial e turístico e é um dos maiores produtores de grão.

Que viagem! São 570 km toureando o vento. E não é aquele vento constante, são rajadas que parecem dar uma rasteira na moto e um tapa no capacete. Muito cansativo! E nas paradas precisa-se ter cuidado em como se larga as luvas ou qualquer objeto mais leve: o vento leva mesmo. Além disso esse ronco constante no capacete vai cansando e até se tornando um sonífero - tivemos que parar na beira da estrada para lavarmos o rosto e acordar um pouco.

Houve um trecho que assustou: eram uns trinta quilômetros, precedidos por um aviso de óleo e areia na pista. E não eram manchas, a pista inteira estava preta e com areia por cima! Não dava para saber com clareza quanto óleo realmente havia ali. Só nos restava procurar as faixas dos pneus de carros, que já estavam um pouco mais claras e davam um pouquinho mais de segurança (ou menos insegurança). Em alguns desses trechos preferimos trafegar pelo acostamento, pois a incerteza com a pista era muito grande.

Aliás, estamos chegando à conclusão que, do ponto de vista das estradas, a época ideal para viajar aqui deve ser no outono: na primavera elas estão arrebentadas; no verão estão consertando. No outono devem estar boas...

A viagem inteira é ao longo de plantações e pastos. Desde Calgary - mais de 1.400 km - que o cenário não muda. Impressionante, essa região é o celeiro do Canadá! E um efeito muito bonito dependendo da hora e do ângulo de incidência do sol, é o do feno enrolado refletindo a luz que bate nele: parece capim dourado.

Outra coisa muito interessante é que por qualquer lugarejo por onde se passa há um museu local. Não paramos em nenhum, mas algum dia ainda pararemos só para ver qual será esse acervo. Ficamos com a impressão que quaisquer três xícaras velhas e quatro cartas de antepassados são suficientes para justificar a abertura de um museu.

Nessas áreas agrícolas, sempre que a casa de uma fazenda estava à margem da rodovia, havia uma espécie de oásis: tipicamente se vê, na área em que fica a casa, um celeiro, pelo menos duas picapes, um trailer ou um trailer misto (cavalos e cuidadores), às vezes um barco, além de máquinas agrícolas. E tudo isso cercado por um bosque e jardins bem floridos. Bem diferente do que estamos acostumados a ver no Brasil.

A chegada a Winnipeg surpreendeu um pouco: estamos acostumados a algum tipo de estrada ou via rápida que leva para dentro ou bem perto da cidade, principalmente em cidades maiores. Em Winnipeg anda-se uns dez quilômetros de avenida normal, cheia de semáforos, desde subúrbios que nem sabemos se já são parte da cidade. E a qualidade da pavimentação dessa avenida e também das ruas em geral deixou muito a desejar: foram de longe as ruas mais irregulares que pegamos desde que saímos da América Latina.


25/08/2011 - Quinta-feira: Winnipeg

Dia de céu límpido, sol quentíssimo, mas com o ventinho dá para aguentar. Na realidade é uma coisa meio louca: torra-se no sol e treme-se na sombra!

Winnipeg também não é uma cidade super-turística. A impressão deixada ontem pelas ruas de entrada na cidade se confirmou hoje. E o comportamento dos motoristas aqui também é menos comportado que no resto do Canadá que vimos até agora.

Pegamos um busão e fomos para o centro da cidade. Descemos ao lado do parque que corre ao longo do rio Assiniboine e fomos andando por ele - muito gostoso. Há um caminho que corre literalmente à beira do rio - tão perto que este ano o caminho está completamente inundado, com partes inclusive destruídas pela força das águas.

Visitamos o Prédio da Assembléia Legislativa provincial: muito bom. Construção de 1919, à beira desse parque do rio Assiniboine. Muitas informações, muito simbolismo, e no final um presentinho da guia para cada visitante.

De lá fomos caminhando para a Estação Ferroviária, que é uma construção muito curiosa: não se vê aquelas estruturas de ferro, cúpulas e outros detalhes que caracterizam estações ferroviárias na Europa e também em alguns lugares da América do Norte. O edifício parece ser de alvenaria ou algo parecido, relativamente convencional. Entretanto, quando se anda pelo interior verifica-se que as estruturas metálicas existem, sim, mas foram recobertas com acabamento mais 'moderno' - eles até deixaram algumas das estruturas descobertas para mostrar a modificação.

Outra curiosidade dessa estação é que ela atende a uns quatro trens por dia. Isso mesmo, só há esses número de trens num dia, e mesmo assim não é todos os dias. Ah, e as salas de espera parecem de quarenta anos atrás - o mobiliário deve ser. Bem interessante. Pena que não deu para visitar as plataformas - com todo esse movimento elas ficam fechadas e só abrem perto do horário de partida ou passagem dos trens.

Atrás da estação fica o Sítio Histórico Nacional de Forks. É um parque que apresenta passagens da história de Manitoba. Há diversões para todos os gostos, mas a maior parte está em reforma. Há vários bares e restaurantes com ambientes ao ar livre, musiquinha para se escutar conversando, muito agradável. Há também bancos de madeira espalhados pelo gramado, com um banco à frente para se apoiar os pés e descansar - deu até para tiramos uma soneca.

Nesse passeio confirmamos o que o segurança do hotel havia comentado na noite anterior: os motoristas de Winnipeg são bem mais perigosos que a média canadense até aqui: gente furando sinal e conversões meio loucas. Curiosa essa cidade!


26/08/2011 - Sexta-feira: Winnipeg - Ignace (ON)

Pronto, lá vamos nós deixar Manitoba e partir para Ontario. Acabamos não visitando a região de lagos da província de Manitoba, que fica mais no centro em direção ao norte. O problema é que as distâncias são muito grandes, e quando se vai para o norte não há como aproveitar o roteiro e continuar para o leste: só as estradas (ou melhor, a estrada) que liga as capitais das províncias corre no sentido leste-oeste. Se fossemos para o norte teríamos que voltar para seguir para o leste, o que tomaria muito tempo. Não tem jeito, para realmente ver essa regão precisa-se de um mês para cada província.

Saímos de Winnipeg com tempo bom e aquele ventinho já conhecido. No início o relevo era o mesmo que vínhamos vendo desde Calgary, mas quando nos aproximamos da divisa com Ontario ele começou a mudar, e Ontario nos apresentou um Canadá (deste lado, oriental) completamente diferente: solo mais acidentado, rochoso, e repleto de lagos - a estrada parece serpentear entre eles! Mas sem as montanhas das Rochosas, só montinhos pequenos. E o mundo comercial muda de acordo: lojas de barcos, equipamento de pesca e outras coisas relacionadas com água.

Viajar em Ontário é muito chato: as estradas são melhores que em Manitoba,mas a velocidade máxima é de 90km/h. E nos primeiros quarenta quilômetros vimos mais carros e motos da polícia que em todo o resto da viagem pelo Canadá. Cuidado!!! E a transgressão é cara: a multa para 110 km/h é C$ 95,00, para 120 km/h vai para C$ 190,00 e 130 km/h custam C$ 290,00.

E é curioso como uma diferença de apenas 10 km/h na velocidade máxima pode tornar a viagem monótona. Deve ser psicológico, mas o trecho dentro de Ontario cansou muito!

Outra surpresa foi a mudança de fuso horário: a última mudança fora 'logo ali', entre Regina e Winnipeg, e pouco depois de entrarmos em Ontario topamos com um placa avisando que a partir dali (meridiano 90) o horário mudava em uma hora. Curioso como essas faixas de horários são variadas.

Paramos em Ignace. Por que Ignace? Simplesmente porque ficava a uma distância adequada de Winnipeg. Esta região é bem mais habitada que o Yukon, mas ainda não dá para escolher muito os pontos de parada - eles não são tantos assim.

Ignace é uma cidadezinha (vilarejo?), mas tem um lindo lago, Agimak Lake, e dizem que o peixe característico do lugar, o Walleye (pickerel) é o de melhor sabor da região.


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