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Quinta-feira
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Fish River Canyon / Keetmanshoop - Aus
O principal objetivo do dia foi visitar o Fish River Canyon, dito segundo maior canyon do mundo - não sabemos por qual critério. O hotel oferecia excursão para lá, mas a própria recepcionista nos disse que também vendiam o mapa e poderíamos ir por conta própria.
Fizemos isso, pois dessa maneira não ficamos presos ao horário de saída da excursão (meio cedo para nosso gosto), economizamos dinheiro e do canyon saímos direto para a próxima etapa, sem necessidade de voltar ao hotel.
O mirante principal do canyon fica dentro do parque de preservação de Fish River Canyon, a uns 10 km da entrada. Aqui na Namibia paga-se por todas as atrações turísticas (muito justo) e os preços são bem razoáveis. Nesse caso foram US$ 11,00 para duas pessoas mais o carro. Não dá prá reclamar!
O canyon é realmente muito bonito, e valeu a pena a andança do dia anterior e o hotel mais caro que o normal para nós.
Além dos dois pontos que visitamos e de onde tiramos as fotos, há três outros, um dos quais só acessível por veículos 4x4. Porém, ao tentarmos chegar ao primeiro dos dois teoricamente acessíveis achamos que a estrada não era suficientemente boa (muitas pedras, e receio de danificar um pneu nelas) e decidimos nos dar por satisfeitos com o que havíamos visto.
O caminho para o próximo destino nos levou de volta pela mesma estrada até o asfalto, e aí começamos a ver o que é o tema principal do sul da África: os animais. Pode ser até que no dia anterior eles estivessem lá, mas com a pressa de chegar em estrada de terra pouco olhamos para os lados.
Como tínhamos tempo suficiente decidimos visitar dois locais que teríamos visto no dia anterior, se não fosse a correria em que ele se transformou.
A primeira dessas atrações é a Quiver Tree Forest. Está muito longe de ser o que imaginamos como floresta, mas como essas árvores normalmente aparecem isoladas por aí, e não gostam de chuva, esse lugar, que congrega algumas dezenas delas, foi classificado como floresta.
O nome dessa árvore vem do fato de que o povo San (busquímanos) escavava seu galhos, que são bem retos, para fazer aljavas (quiver) para suas flechas. É uma árvore fora do comum!
Depois fomos ao Giants Playground. É uma amontoado impressionante de pedras, que parecem ter sido empilhadas por seres gigantescos. A explicação é que elas são magma que foi empurrado para cima entre rochas sedimentares, e que por ação de variações fortes de temperatura foi fraturado em blocos menores - mais ou menos o que se vê hoje. O resto foi obra de água e vento, que arredondaram grande parte das rochas.
Havia um casal australiano, que já havíamos encontrado na Floresta Quiver, com o qual começamos a andar pelo meio das rochas, mas depois nos separamos. No início havia placas com setas indicativas que fomos seguindo sem muita preocupação. Depois de algum tempo percebemos que não havíamos mais visto nenhuma placa, e constatamos que não tínhamos muita idéia de onde estávamos: é um labirinto mesmo! Foi um grande alívio ver os dois australianos à distância e conseguir chamar a atenção deles. Aí percebemos que algumas placas caíram e outras estavam bem acima da linha de visão normal - coisa como 3-4 metros de altura.
Saindo do Giants Playground pegamos a estrada para rodar os aproximadamente 220 km até Aus, nossa próxima parada. Essa parte foi toda em asfalto, o que é sinônimo de média de 110 km/h sem problemas. Mas nossa aventura labiríntica acabou nos atrasando um pouco, e chegamos a Aus pouco depois do anoitecer.
O hotel era um pequeno mistério: o GPS insistia que ele não ficava em Aus, e o mapa da hoteis.com só mostrava uma igreja e que ele ficava à esquerda da igreja para quem entrava na... digamos cidade. A relutância tem uma razão: iluminação urbana é quase inexistente. Ainda não ficamos em nenhuma cidade de verdade, então não sabemos se isso é comum ou se é característica de Aus.
Conseguimos ver a igreja e viramos à esquerda - na realidade formos virados, pois a rua é que vira à esquerda. Depois de uns 150 m. uma placa no alto de uma construção: Hotel Bahnhof. Mas no escuro, só com iluminação do farol do carro, só dava para ver esse nome, sem outros detalhes da placa.
E olhando a construção ficamos muito preocupados se aquilo era o hotel que havíamos reservado: uma espelunca! Mas não era possível, a reserva fora feita com base em avaliações do Trip Advisor e da hoteis.com!
Mesmo assim desci e bati na porta da casa. Antes que alguém respondesse um senhor que vinha pela rua nos disse que o hotel ficava uns 100 metros adiante. No dia seguinte, à luz do dia, verificamos que era exatamente isso que a placa dizia!
Bem mais aliviados, pois o hotel é bastante razoável, nos instalamos e fomos comer assim que o restaurante abriu: mais uma vez não havíamos almoçado.
Opções de restaurante? Exatamente uma: o do hotel. Felizmente bom, e com preços perfeitamente decentes, ao contrários dos restaurantes de hotel no Brasil, que costumam ser mais caros que um equivalente 'na rua'.
E mais uma vez Internet só no restaurante e na sala de estar, razoável, mas insuficiente para grandes transferências de dados. Mesmo assim tentamos subir uma página do site: nada feito, a rede bloqueia trasnferência de arquivos (ftp). Então o jeito foi dormir.
E aí vieram as duas surpresas desagradáveis: a água quente do banho não dava nem para o primeiro de nós terminar adequadamente o banho, e a calefação do quarto não dava nem para quebrar o galho.
Foram mais duas noites enfurnados embaixo de edredom! Chegamos a pegar cobertores para reforçar, mas aí foi demais.
O interessante é que a grande queixa das avaliações que lemos eram a respeito da falta de ar condicionado (estadias no verão). Esse problema descartamos por ser inverno, mas não esperávamos que a situação se invertesse tanto.
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Sexta-feira
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Aus / Lüderitz
A observação à luz do dia confirmou a impressão inicial: Aus é um 'buraco'. Um exemplo: perguntamos por um banco (precisávamos trocar dinheiro). Lá, nenhum. Opções: Lüderiz (125 km) ou Keetmanshoop (210 km). Um esticão razoável para ir ao banco, né?
Mas isso não chegava a ser um problema, pois o objetivo dessa parada era realmente visitar Lüderitz. Só nos hospedamos em Aus para evitar os 125 km de Lüderitz até aqui: quando seguirmos teremos uns 340 km em terra, e achamos melhor não acrescentar mais uma hora e meia de viagem a esse percurso.
Então fomos para Lüderitz. No caminho fomos apresentados pela primeira vez ao verdadeiro deserto da Namíbia: conforme avançávamos pela estrada os morros (não são muito altos para serem chamados de montanhas) à frente pareciam ter suas bases envolvidas numa neblina bem baixa.
Levamos um tempo para entender que aquilo era areia. O vento está empurrando a areia contra os morros, e eles estão submergindo nas dunas! Inclusive existe uma ferrovia que liga Aus a Lüderitz, que não opera mais porque os trilhos foram encobertos pelas dunas.
Lüderitz tem o nome do seu fundador, e foi criada em função da descoberta de diamantes na região. Uma guia que estava dando explicações para seu grupo informou que, a título de exemplo, dois mineradores juntaram 600 quilates de diamantes numa área de 50 m2! E sem escavar nada: as pedras se espalhavam pela areia à superfície, tanto que os nativos eram atraídos pelo brilho delas à luz da lua e as juntavam para fazer enfeites!
Depois conversando com hóspedes sul-africanos do nosso hotel eles contaram que esses diamantes superficiais da Namíbia foram trazidos da África do Sul pelas águas do hoje rio Orange, há alguns milênios. Na época da ocupação alemã toda essa área foi declarada Sperrgebiet (área proibida), reservada para a mineração de diamantes. Como dizem por aqui em tom de 'piada verdadeira' o problema não era tanto alguém entrar nessa área e sim sair com diamantes..
Hoje somente uma pequena parte da área ainda é explorada como fonte de diamantes, na mina Elizabeth Bay, propriedade da empresa De Beers, dona desde sempre dessa área. Atualmente a mineração de diamantes é conduzida por uma empresa mista, associação da De Beers com o governo da Namíbia. E a úiltima novidade, já que os diamantes em terra estão se esgotando, é procurar os diamantes que, no mesmo processo que os trouxe para o Sperrrgebiet, foram arrastados para o mar: mineração submarina (offshore).
Uma das atrações da área fica fora da cidade: é uma cidade fantasma da época da grande exploração dos diamantes: Kolmanskuppe. Poucos prédios ainda podem ser visitados com segurança, e também essa cidade tende a desaparecer: algumas construções já foram parcialmente invadidas pela areia, e não parece que se esteja fazendo muita coisa para evitar isso.
Kolmapskuppe contava com um hospital bem grande, escola, centro comunitário com salão e palco para eventos culturais e duas pistas de boliche (não podia faltar onde havia tantos alemães), e todos os confortos que a época oferecia.
Uma outra atração de Lüderitz é a casa de um alemão que veio primeiro como soldado e voltou depois para trabalhar numa empresa de mineração. Para se ter idéia do que se ganhava de dinheiro com os diamantes, esse alemão (Hans Goerke) construiu a casa um ano depois de chegar à África. E não era uma casinha: até hoje é uma casa que chama atenção pelo tamanho e acabamento, além da localização privilegiadíssima, que inclusive dificultou a construção. E para dar uma dimensão mais precisa do que isso significa, naquela época (1908-10) tudo foi trazido da Alemanha. Não só material de acabamento e decoração, até o material de construção veio de lá.
Ficamos relativamente pouco tempo em Lüderitz, mas aprendemos muita coisa nova. Hoje a cidade vive do que ainda resta da exploração de diamantes, do turismo e do porto, que não é muito grande mas contribui para a economia da cidade..
E tomamos um pequeno susto na saída: nosso GPS queria a todo custo nos levar pelo meio dos bairros pobres da cidade. Não sabemos se havia risco real, mas depois de todos os avisos recebidos na África do Sul e lembrando as histórias das nossas favelas, resolvemos contrariar o GPS e voltar pelo centro da cidade. Ah, e achamos o banco para fazer nosso câmbio...
No caminho de volta para Aus ainda avistamos o que havíamos procurado na ida e não vimos: os Wild Horses (cavalos selvagens): são cavalos que se supõe (nunca se conseguiu, mesmo com análises de DNA, chegar a uma conclusão definitiva) descendentes de animais abandonados pelos alemães após serem derrotados pelas tropas sul-africanas na primeira guerra mundial.
Esses cavalos são deixados livres, sem tentativa de domesticação, para viverem naquela região - eles só existem ali. No momento estão com aspecto muito debilitado devido à longa estiagem que está comprometendo tanto as fontes de água como as pastagens.
Paramos na beira da estrada, fizemos algumas fotos e não entramos no caminho apontado por uma placa porque já estava perto do anoitecer. Mais tarde, perguntando ao dono do hotel o que mais teríamos visto se entrássemos ali a resposta foi "nada!". Bom, e crer nessa resposta vimos o que havia a ver.