29/07
/201
6
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Sexta-feira
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Bagamoyo - Moshi
Finalmente uma estrada 'normal'!!! Quer dizer, quase...
Partimos cedo (mais uma vez foi negociada uma antecipação do café da manhã que não funcionou muito bem) e o início da jornada foi meio assustador: estrada de terra (ainda dentro de Bagamoyo) até chegarmos ao asfalto, onde também ainda pegamos um desvio antes de entrar no asfalto 'definitivo'. Eu já estava me preparando para criar caso (não tinha nenhuma intenção de andar dezenas de quilômetros em terra/areia novamente) mas felizmente foi só o susto inicial: depois dos primeiros 10-15 quilômetros a viagem passou a correr tranquilamente por estrada de boa qualidade e, principalmente, com muito menos tráfego de caminhões e ônibus.
Quando a felicidade já estava dominando a coisa piorou de forma drástica: uma pequena serra, com pavimentação precária, os famosos caminhões lentos e os ônibus loucos, tudo ao mesmo tempo. Talvez a serra tenha provocado a concentração dos veículos, e foi um trecho bem chato. Mas não durou muito, e a viagem voltou a ser bem mais agradável que nos dias anteriores.
E não podíamos nos despedir das motos sem mais um incidente com a polícia: no início de uma das famosas áreas de 50 km/h, fiz uma ultrapassagem meio forçada de um caminhão super lento e o Julian veio junto, colado em nós. Imediatamente após a ultrapassagem um policial fez sinal para que eu continuasse e parou o Julian. Como tem sido a prática nessas situações deixamos o Julian (ele é 'da casa') e seguimos em frente.
Quando paramos para abastecer pouco antes de Moshi, de modo a devolver as motos com tanque cheio, como as recebemos, o Julian demorou bastante para nos alcançar. Fui imediatamente falar com ele, pronto para gozá-lo por ter feito aquela ultrapassagem mas não deu tempo: ele berrou "Vocês foram multados! Cinco motos!".
Resumindo o que ele nos contou: nós não fomos parados porque o policial considerou que seria muito perigoso parar a moto com a van e o caminhão logo atrás, e parou o Julian por ter certeza que ele fazia parte do grupo. O Julian ainda tentou se fazer de desentendido, mas o policial não caiu na dele, dizendo que a moto que ele tinha na carreta era igual às que haviam passado.
E a infração não era naquele vilarejo: o policial mostrou o vídeo das últimas cinco motos do grupo acelerando acima de 50 km/h antes da placa de liberação da velocidade num dos trechos anteriores. Tsh 150.000, 30.000 por moto. Eu já estava começando a procurar o dinheiro para reembolsar o Julian, mas ele disse que não havia necessidade: ele havia 'negociado' a multa e pagou Tsh 10.000!!! OK, a SAMA Tours pode arcar com os R$ 15,00 da multa sem ir à falência.
Falando em dinheiro, uma curiosidade que nos acompanhou desde Dar es Salaam é que na maioria dos restauranres, hotéis e mesmo lojas voltadas para turistas os preços são normalmente expressos em dólares americanos. Se a opção for de pagar em moeda local a conversão é feita na hora (muitas vezes a um câmbio bem decente) e se se quiser pagar com cartão de crédito muitas vezes é possível escolher em que moeda se quer pagar: dólar ou shilling da Tanzânia.
Moshi é uma cidade média, o que aqui significa algumas ruas asfaltadas. Já estávamos felizes e relaxados por chegar ao último hotel nessas condições, mas não foi tão simples: o acesso ao hotel era, mais uma vez, uma ruazinha de terra bem acidentada, curta mas desagradável por ser inesperada. E com isso acabou a parte de moto da viagem. Notávamos em diversos companheiros um claro alívio: esses últimos dias haviam extrapolado o razoável, e não deixaram muitas boas lembranças.
Mas a correria não acabou: no dia seguinte começariam os três dias de safari, e tínhamos apenas o fim da tarde e a noite para rearranjar toda nossa bagagem: a tralha de moto tinha que voltar para a mala onde veio, e tínhamos que separar uma malinha pequena para cobrir as três noites que passaríamos andando por aí num jipe de safari. O resto da bagagem ficaria guardada no hotel.
Mesmo assim ainda deu tempo de tomar um drinque com a turma antes do jantar, mas logo depois fomos para a cama porque... no dia seguinte teríamos que levantar cedo para sair às 7h30. Isso certamente está cansando...
30/07
/201
6
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Sábado
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Safari, dia 1 - Lake Manyara National Park
Essa parte do programa não foi feita de moto por uma razão muito simples: motos não são permitidas nos parques. Uma proibição totalmente justificada: a fauna desses parques é realmente selvagem, e não faria o menor sentido entrar num ambiente desses numa moto, totalmente exposto a ataques dos animais. Mesmo nos carros é terminantemente proibido sair dos mesmos, e em muitas situações o guia pede que se fique bem quieto, para não agitar um animal que esteja próximo do carro.
E lá fomos nós no nosso 'jipe' procurar a bicharada. Esses veículos são muito bem bolados; a absoluta maioria são Toyotas Land Cruiser modificados: a parte atrás do banco do motorista tem relativamente poucos assentos, de modo a permitir que todos os passageiros fiquem em pé com uma razoável liberdade de movimentos para observar e fotografar os animais. E os passageiros ficam em pé porque o teto do veículo sobe, abrindo um vão de um 60 cm. acima da capota do veículo. Muito bons!
Nosso grupo de quatorze pessoas foi dividido em dois desses jipes. Foi um momento em que a presença de dois viajantes solitários ajudou muito na distribuição das pessoas: três casais mais um dos 'solos' em cada veículo.
Infelizmente descobrimos logo de cara que a localização do hotel em Moshi não é das mais convenientes para esses safaris: os parques ficam todos a oeste de Arusha, uma cidade maior a 80 km de distância. O problema é que, além da usual lentidão para percorrer esses 80 km. é necessário atravessar Arusha, e isso também é uma pequena aventura.
Primeiro tivemos que enfrentar os chineses novamente: eles estão duplicando justamente a pista que atravessa a cidade, e como já aprendemos fazem logo toda a obra de uma vez, criando uma grandiosa confusão por uns 10 quilômetros. Some-se a isso o trânsito de uma cidade movimentada e o caos se instala, principalmente de manhã cedo e no fim da tarde.
E para completar num determinado ponto, onde havia semáforos, o motorista/guia pediu que fechássemos bem as janelas: perigo de ladrões arrancarem bolsas ou câmeras e celulares de dentro do carro. Já viram isso antes?
O resultado dessas demoras todas, ainda agravadas pelo fato de alguns companheiros de viagem terem que parar num banco para tirar dinheiro (problema em parte deles e parte da SAMA Tours, que indicou que caixas eletrônicos não seria problema ao longo a rota - não era tão fácil, e com as jornadas extremamente longas ninguém se dispunha a sair à procura de um à noite), resultou em umas quatro horas de viagem até a entrada do Lake Manyara National Park, nosso destino nesse dia.
Bem, e o que você vai fazer num parque africano? Ver animais! E em inglês essa atividade dá margem a um trocadilho interessante: a atividade de andar de jeep ou outro veículo pelos parque é chamada de game drive, porque 'game' em inglês designa, originalmente, qualquer animal caçado por esporte (lembrem-se que essa é uma das atividades de lazer favoritas dos nobres ingleses). Portanto, andar pelo parque à procura de game é um game drive (conduzir um veículo à procura de animais).
Mas game em inglês é também jogo, e esse significado se aplica bem a essa atividade nos parques, pois todos os guias que tivemos enfatizavam a mesma coisa: estamos à procura de animais que se deslocam livremente num terrítório muito grande, e estamos restritos às vias abertas no parque para deslocamento dos veículos. Portanto, todo game drive tem um gosto de aposta, pois sempre há o risco de se passar o dia inteiro andando pelo parque e não ver nada!
No caso desses parques esse risco é reduzido pela grande quantidade de animais e pela intensa colaboração entre os guias: todos os carros, de todos os operadores de turismo, dispõe de sistema de comunicação entre eles. E sempre que um deles localiza um grupo particularmente interessante de animais ou um animal difícil de encontrar avisa os demais, que convergem para o local.
O dia no Lake Manyara Park foi bastante produtivo, permitindo ver e fotografar uma bela coleção de animais, mas sem nada fora que já não tivéssemos visto em outros parques: búfalos, zebras, javalis, diversos pássaros... Mas mesmo assim continua sendo interessante vê-los, pois sempre há um novo ângulo para uma foto mais interessante ou um animal maior ou com alguma outra característica marcante.
O que não havíamos vivenciado até aqui foi a permanência dentro daquele carro por quase 10 horas, sem poder sair. Mesmo a questão banheiro foi complicada: tivemos uma oportunidade no portal de entrada do parque, outra, no matinho, quando paramos para almoçar, e novamente no portal ao sair.
Aliás o almoço acabou sendo uma continuação do que fazíamos de moto: o guia trouxe lunch boxes (faz perfeitamente sentido em inglês, mas "caixas de almoço" não é tão intuitivo em português). Por isso também o matinho: o almoço foi simplesmente uma parada num lugar adequado para uso do matinho e comemos dentro do carro.
Permanecemos aproximadamente cinco horas dentro do parque, e depois ainda viajamos mais uma hora até o hotel onde passaríamos as duas próximas noites. Esse hotel teve algumas características interessantes. Uma delas, repetindo o que já havíamos visto naquele hotel no fim do dia horrível (Old Farm House), caminhos de acesso a quartos e restaurante totalmente às escuras. Coisa mais esquisita, que parece não ser tão incomum por ali
Outra coisa que chamou a atenção foi o contraste entre quarto e bar/restaurante: o primeiro muito simples, beirando o desconfortável (nem uma cadeira havia) e o segundo muito bem montado e decorado, com comida muito boa. Não entendemos muito bem porque uma diferença tão grande de padrão entre os dois ambientes.
Ah, ao nos separarmos do guia na chegada, depois de muita negociação conseguimos definir um horário de saída no dia seguinte meia hora mais tarde: marcamos para as 7h30. O argumento do guia para não postergar mais a saída era que teríamos um trajeto relativamente longo para chegar ao próximo parque, e que era importante chegar cedo para evitar a concentração de veículos de safari querendo pagar as taxas na entrada do parque. Enfim, lá fomos nós para a cama para levantar às 6h30...